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Mostrando postagens de 2015

Palavras amantes

   Aquelas palavras que não são só minhas, nem sequer de língua alguma. Palavras que são repetidas a todo momento, em todos os cantos do mundo, por tantos casais, que chega a ser cansativo pensar. Incrivelmente, cada vez que saem da boca de alguém - um alguém específico e multiplicado com intermináveis variantes por 7 bilhões de pessoas, pois são todos únicos e especiais, diferentes entre si, mas todos esses passíveis de caírem nos mesmos clichês - essas palavras conseguem parecer surpreendentemente novas. E são.     Porque o que define a emoção que uma palavra é capaz de causar não é a classe gramatical, a divisão silábica ou a tonicidade. Essas coisinhas imutáveis são igualmente insignificantes nos momentos em que se ouve - se sente - aquelas palavrinhas mágicas. O que define todo esse momento se chama circunstância: e ela muda a cada casal, país, época, cultura e gosto.    O que define tudo isso é justamente a ausência da palavra propriamente dita, só a latência naquele silên

Sou de infinitos com ascendentes em exageros

   Perguntaram meu signo, respondi que sou de touro. Com ascendente em sagitário. E a Lua em câncer. E Vênus eu esqueci. Mas acho que gravar astrologia não é para mim. Apenas me dê a interpretação, ou leia minha mão. Qualquer resultado vai te falar dos meus tantos infinitos. E exageros. E inconstâncias.     Eu gosto assim: tudo ou nada. De preferência, tudo. Eu gosto daquela ideia corajosa de mergulhar de cabeça, de se jogar com vontade. Mesmo que geralmente eu entre aos poucos na água fria. É que, enquanto minha pele se arrepia, minha imaginação já mergulhou, e até voltou. Eu gosto daquela sensação de é aqui, e é agora, e é muito mais. É infinito, mesmo que por um segundo. Ou uma semana, ou dois meses, ou trinta anos. É para sempre porque existe memória. E é muito mais, porque sou fã de exageros.     Eu não sinto fome, eu morro de fome. Eu não gosto de chocolate, eu sou apaixonada por chocolate. Eu amo ler, e escrever, e imaginar, e criar, e afins. Eu não estou a fim. Eu estou

Arrisquei um poema

O verso Da sua conversa Virou ao avesso Tudo que já estava atravessado Na sua prosa A poesia Provocou em mim Pura alegria A simpatia A fantasia A sintonia Me sinto criança Redescobrindo palavras Descobrindo sentimentos Aprendendo a rimar

Meus textos ainda são todos seus

   Talvez seja óbvio para você, com tantas coisas que deixo perdidas nas entrelinhas. Talvez você ache que me encontro sozinha. Engano seu. Não estou nem tristinha. Mas é que meus textos ainda retratam você, mesmo tanto tempo depois. E talvez muita gente já nem ache mais graça, mas como eu poderia mudar? Ainda não achei graça em outro olhar.    Meus textos ainda são todinhos seus, mesmo quando as histórias não têm absolutamente nada a ver. É que os sentimentos que as personagens sentem, foi você quem me fez sentir. Meus pensamentos ainda são, em parte, seus. Entre tantas coisas que há para pensar, às vezes me pego lembrando de algo, e foi você quem falou. Tanta coisa que você me ensinou, e eu nem pensava em aprender.     Meus textos ainda são todos seus, porque você foi, mas deixou tanto de si em mim, que eu ainda não consegui ir. Ou não quis. Aceito que parte de você ainda esteja aqui, e deixo-a ficar, assim como assumo que essas palavras são para você. Assim como assumi gostar.

Amiga, ninguém aguenta mais te ouvir falar dele

   Eu sei que foi bom, que foi mágico, que esse foi o seu romance de cinema. E que você ainda gosta dele, e que lembra dele nos mínimos detalhes do dia a dia. Eu sei de tudo isso, e realmente sorria com o bem que ele te fazia. Não precisava nem você contar que estava feliz, porque o brilho no seu olhar mostrava que feliz era pouco - você estava radiante. E, meu Deus, completamente apaixonada. Foi aí que todo mundo começou a enjoar.    Acho que você guardou todos os seus assuntos tão interessantes e mirabolantes para ele. E com os outros você conversava sobre como a conversa com ele era boa. Aí você também reservou todo o seu tempo para ele. E com os outros você rapidamente falava que estava falando muito com ele. E você doou todos os seus sentimentos para ele. Mas aí, quando ele não quis, você não conseguiu pegar de volta e dar a outro alguém. Era doação. Era de coração.     Ai, amiga, eu sei como a sua história é bonita. Já sei de cor como vocês se conheceram, como saíram, como

Apesar de você

   Ela se espreguiça para levantar, deixa a cama desarrumada, ignora a cortina fechada e segue até a cozinha para fazer uma torrada. Apesar de você, ela continua fazendo tudo igual. Só não ouve a sua respiração forçada de quando o nariz já está completamente entupido. E não liga se você não reclama sobre forrar a cama. E não está nem aí para os primeiros raios de sol do dia, que você tanto insistia que melhoravam a energia da sua alma.    Ela toma um banho devagar, se veste com pressa e escova o dente apertando a pasta pelo meio. Apesar de você, ela continua completamente igual. Só que não te ouve apressado, pedindo para ela adiantar, porque você, por favor, tem que ir trabalhar. E ela se veste sem ligar para a cor da calcinha que vai escolher, e vai ser bege sim, que você não está nem aí. E ela não te ouve mais falar de como é absurdo apertar a pasta pelo meio, ou suspirar profundamente e começar seu difícil trabalho de arrumar a bendita pasta de dente.    Ela fecha a porta no

Essa é minha declaração de amor

   Eu te conheço há tanto tempo! E, sinceramente, acho que, desde que te conheci, nunca esqueci. Não há um dia na minha vida - sem exagero - que eu não pense em você. Não há um dia que eu não deseje te ver, te tocar, me lambuzar com você. Não há um dia que eu não sorria ao sentir seu cheiro, seu gosto, ao saber que, em breve, vou te ter.    Acho que me viciei em você. Acho não, tenho certeza. Uma certeza tão certa quanto a de que um dia vou morrer. Sabe aquele final de semana que fui passar na praia? Fiquei louca quando percebi que você não tinha ido junto. Acho que entrei em abstinência. Eu até pesquisei sobre o caso, se quer saber. Tem a ver com hormônios, com a dose de dopamina. E a dopamina que você me faz liberar... É de impressionar. Mas claro que teria a ver, eu não precisava nem pesquisar. É a bioquímica do amor, posta em ação pelo seu sabor.    E olha que eu demorei para admitir tamanha paixão. Achava que dava para me controlar. Tolinha, eu. Achava que, tendo um pouqu

Nosso momento passou

   Já passou da hora de te dizer adeus. Já passou da hora de me virar, andar para longe sem olhar para trás. Já passou da hora de tirar suas fotos dos meus porta-retratos, de jogar as flores mortas fora, de tirar a água do jarro. Já passou da hora de guardar suas cartas, devolver o que você esqueceu em minha casa, quitar as contas dessa história.    Já deixei a hora passar algumas vezes, mas juro que agora é oficial! Coloquei no meu despertador e tudo. Preparei a sala, a mala e as lágrimas. Te espero com um jantar saboroso, um clima agradável, e te preparo para ouvir o que menos queria. Mas é que eu preciso. Nós precisamos, porque já não existe mais um nós vivendo sob isso tudo. Separei todas as suas coisas nessa mala, que assim você não precisa reviver os nossos momentos, nem os nossos ainda não-momentos, que não vão mais acontecer, só para recolher o que falta. Você não merece passar por esse sofrimento. Mas merece menos ainda ficar preso a algo que já deu tudo o que tinha de

Aquela simples amizade

   “Ei, Jade, o que está lendo?” ou “Ei, Jade, você já fez o fichamento que o Bigode pediu?” ou “Ei, Jade, posso almoçar na sua casa hoje?”. Era sempre assim. Ela estava sempre distraída demais, ou entretida demais, ou empolgada demais. Ele era mais pé no chão. O que os dois eram? Bem, até uns três meses atrás, em fevereiro, não eram absolutamente nada. Não existia os dois . Sim, eles se conheciam. Sim, eles tinham estudado juntos na terceira ou quarta série. Eles sabiam o nome um do outro, se esbarravam ocasionalmente pelos corredores do colégio ou nas festas que frequentavam, possuíam alguns amigos em comum. E, no máximo, tinham trocado algumas palavras umas dez vezes na vida.    Tudo mudou em janeiro, quando a lista dos aprovados saiu. Curso difícil, concorrência alta, faculdade federal. É claro que Jade não esperava passar. Fez a prova por desencargo de consciência, para dizer a todo mundo que não era tão irresponsável assim, que pelo menos tinha tentado. Não se preocupou em esp

Abraço de aeroporto

   Eu não sei quando você vai voltar. Mas sei que vai demorar muito. E que talvez você não volte. Talvez para visitar, não ficar. Esse abraço não é o último. Te prometi que um dia vou te visitar. Sabe lá Deus quando. Mas eu vou tentar. Juro que vou. Um dia, quem sabe, eu não apareço de surpresa e você me mostra sua nova cidade?    Aperto esse abraço mais forte, como se pudesse te manter aqui. Talvez seja um pouco egoísta da minha parte. Na verdade, é sim. Sei que ir é o melhor para ti. Tem um mundo inteiro te esperando lá fora, tem tanta gente nova para conhecer, tem tantas oportunidades para aproveitar... Mas é que também tem tanta coisa aqui que parece não fazer sentido largar. E natais e anos novos são tão longe!    Quero dizer que vá, e vá logo, sem olhar para trás. Quero te segurar e botar juízo nessa sua cabeça oca, te empurrar até o estacionamento e voltar para casa, dizer que seu lugar é aqui, contente-se e seja feliz. Mas eu sei que não é. Seu lugar é o mundo todo. Su

Comigo a sua música pode ser diferente

   Eu sei que você já teve dezenas de relacionamentos. E de quase-relacionamentos. E de não-relacionamentos. E que terminou todos eles. Ou que eles foram terminados contra a sua vontade. E, principalmente, eu sei que você deixou de acreditar nas pessoas. Ou, no mínimo, deixou de acreditar que você daria certo envolvido com outras pessoas. Acredite, eu também já pensei tudo isso.    Eu sei que você já magoou Amélias, Anna Júlias, Carlas e Beatrizes. Que cantou suas músicas no ouvido de cada uma delas, e que realmente achava que sentia tudo que dizia. Sei que, para elas, cada nota final doeu mais do que o momento que você desafinou bem no refrão, mas que nenhuma delas esqueceu sua melodia. Elas sofreram, cantaram, choraram e, por fim, superaram. Mas, ainda hoje, quando ouvem Mário Lago, Los Hermanos, LS Jack ou Chico Buarque, não deixam de lembrar - seja com dor, amor ou rancor.    Eu sei que você já teve amores menos dignos de músicas. Soube que Fernandas, Gabrielas e Biancas n

Ela não falava sobre amor

   Ela era daquelas pessoas que não gostava de textos melosos, de leite condensado ou de novela. Era tudo muito doce, ela dizia. Não vestia rosa, dizia que flores cheiravam à morte e tinha gastura de abraços. Ela não gostava de conversas longas, esmaltes vermelhos e jantares à luz de velas. E, por Deus, ela não entendia como seus pais podiam, por tantos anos, acordar todas as manhãs com o mesmo bom dia.    Ela saía à noite, não gostava muito dos olhares do dia. Calçava saltos mais altos que o seu ego, vestia vestidos tão curtos quanto à sua fé na humanidade. Ela gostava de beijos roubados, mas nunca de números trocados. Cada dia tinha um nome diferente: se na segunda era Sofia, na terça era Bia e na quarta Juliana. Ela não se importava com a conversa do dia seguinte, com a saída do fim de semana, com absolutamente nada. Só não queria ser encontrada.    Ela acreditava na diversão. Era ali e era agora, não "qualquer hora", não hora nenhuma depois. Ela defendia aquela

Um dia você vai lembrar de mim

   Um dia, não me pergunte quando nem por quê, você vai lembrar de mim. E acho que vai sorrir. Vai sim. Um dia talvez você esteja andando na rua, sentado no ônibus, assistindo a aula, sei lá. E aí eu também não sei o que vai acontecer. Talvez alguém tenha um sorriso parecido com o meu, use um perfume que eu costumava usar, talvez alguém fale com o meu jeito de falar. Ou talvez não seja ninguém. Talvez algo ao acaso te faça pensar. Se uma folha marrom cair sobre o seu casaco, e eu surgir na sua cabeça falando que amo o verão, mas que o outono é especial porque abriga meu aniversário, então talvez você lembre de maio e de como tudo começou. Ou de como não se começou nada, você escolhe. Talvez você veja uma caixa de chocolates suíços, e isso te faça lembrar da minha maior paixão de todas, e de como meus olhos brilham só de imaginar. Talvez, um dia você se machuque e lembre do quanto eu sou desastrada e apareço roxa sem nem perceber. E talvez você sorria ao lembrar das minhas expressõ

E se um dia eu perceber que não gosto mais de você?

   Comecei a gostar de poesia quando descobri que Mário Quintana me traduzia melhor do que eu mesma. Eu nem estava buscando me entender e, por acaso, aqueles quatro versos saltaram aos meus olhos. Assim, entre tantas outras informações jogadas na internet, Do amoroso esquecimento me fazia entender que há amores que se vão, mas não te deixam ir. "Eu agora, que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?"    E me vi tão refletida, que pensei que aquilo seria uma constante na minha vida. Eu me apaixono fácil. Por livros, por comidas, por filmes, por lugares. Não por pessoas. Simpatizar é fácil, gostar também. Fazer me apaixonar? Vai demorar um pouco, meu bem. Era um caminho difícil, longo, tortuoso. Mas quando se chegasse lá, não haveria mais volta. Descobri que sou do tipo que, para o amor - e não as brigas - dou um boi para não entrar, mas uma boiada para não sair.     Você apareceu de repente, mexeu comigo e eu me

Eu quero ser feliz sozinha

   Você disse "me deixa te fazer feliz", eu corri. Agora penso que você deve achar que eu sou louca, que fugi de você, que nunca gostei como disse que gostava. Não é nada disso, mas como posso te explicar? Se eu disser que não estou bem, você vai pensar que estou com saudades. Talvez eu esteja, mas o meu não estar bem não se resume à sua falta. Existem outros problemas, outros assuntos. A minha vida não é só você, desculpe.    Você chegou a me oferecer ajuda, e agradeço a sua boa vontade. Acontece que há coisas que preciso resolver sozinha. Superar mágoas, esquecer rancores, descobrir amores dentro de mim. Antes de aceitar toda a devoção que você me oferece, preciso reconstruir minha proteção, redescobrir minha visão e voltar a acreditar no meu coração. E nesse caminho, só dá para caminhar com os próprios pés.    Você ofereceu amor, e eu não pude aceitar. Espero, sinceramente, que possa aguardar. Se não puder, eu vou entender. É só que, antes de usar o carinho que vo

Ela não é o amor da sua vida

   Não. É claro que não. Amor da vida é uma coisa tão forte, tão melosa, tão para a vida toda... Ela com certeza não é o amor da sua vida. Ela é alguém legal, isso aí. Alguém bem legal, com quem você tem vontade de estar, que chama para sair, que gosta de conversar. Isso não é ser o amor da vida de ninguém, claro que não.    Mas é que ela é linda, sabe? Sei lá, não dá para explicar o que você sente quando a vê se aproximar. Quando ela mexe no cabelo daquele jeito que só ela, no mundo inteiro, mexe. Daquele jeito que deixa o cabelo mais bagunçado do que estava antes, parecendo que acabou de acordar, e que te faz ter vontade de vê-la acordar todos os dias. Não dá para explicar o que você pensa quando ela se vira devagar, e sorri daquele jeito fofo, envergonhado, o dente às vezes um pouco melado do batom escuro. E aquela sua súbita vontade de se aproximar ainda mais, só com a desculpa de que vai "limpar". Mas não. É óbvio que ela não é o amor da sua vida.    Todo mundo q

Aquele olhar

   Ela olhou para ele. A história começa assim. Nada a mais. Nada demais. Ele olhou para ela. Aí sim, teve cena de filme romântico, câmera lenta, cabelos voando ao vento. Tudo imaginação, coitado. Ele achou que ela estava dando aquele olhar. Ela só estava com fome. E sabe como é aquele olhar perdido, desfocado, que parece concentrado em algo, mas na verdade só se concentra no "ai meu Deus, como eu queria uma coxinha"? Pois então. Ele sorriu para ela. Ela continuou pensando na coxinha. A história poderia terminar aí, mas entenda, aquele cara nunca iria deixar assim.    Ele foi atrás da recepcionista, descobriu nome e sobrenome. Sacou da sua arma - o celular - e pesquisou profissão, amigos e histórico escolar. Descobriu signo, ascendente, religião. Livros, blogs, férias de verão. Ela, faminta, continuava a olhar. Ele, encantado, não conseguia deixar de encarar. Ele tomou coragem, levantou da cadeira, andou até o outro lado da sala. Como todos ali, só podia esperar. Água,

E se eu disser que quero estar com você?

   Calma. Respira fundo e ouve direito. Eu te chamei para sair, não te pedi em casamento. Quero estar com você, isso é óbvio. Você já sabe, eu não preciso repetir. Estou te convidando para um bom filme. Para um banho de mar. Para pedalar. Topa? E se eu sentir fome, que tal a gente parar ali e comer? E se eu te chamar para um jantar, vou ficar bem feliz se comparecer.    E se um dia você me olhar com esse sorriso irresistível, e me oferecer um pedaço do seu chocolate, talvez eu aceite. Ou talvez eu finja que não por educação, vire para o lado e roube o pedaço de você. E se eu disser que gosto de te ver, promete não correr? E a gente pode passar a tarde toda juntos, eu vou tentar cozinhar, você tenta me ajudar, vai ser legal, vai por mim.    E se um dia eu decidir te filmar, não põe a mão no rosto, não. Gosto do jeito que sorri quando está envergonhado. Da forma que a sua boca se encurva, seu rosto cora e você vira os olhos discretamente para os lados. E se eu disser que gostaria

Nada sério

   Eu te conheço há tão pouco tempo. E, cá pra nós, nesse pouco tempo parece que já te conheço tanto. Eu acho que te conheço a ponto de achar que está chegando a hora de te desconhecer. É, querido, já passei por isso antes. Já conheço a história do "não quero nada sério", mas olha bem para mim. Eu estou sorrindo, percebe? Eu estou te estendendo a mão para vir sorrir junto comigo. Também não quero nada sério, não. A vida já é séria demais para a gente sair cobrando seriedade das coisas que se propõem a serem só alegria.    Antes que diga isso, e que diga que devemos ser só amigos - para sumir e ser apenas mais um amigo do Facebook -, vou te apresentar uns amigos meus. Nada sério, não se preocupe. Só vou te apresentar gente que entende como a gente é. Gente que vai te contar piadas e chamar para umas festas legais.     Antes que diga que é melhor cada um seguir seu caminho, vamos pegar o caminho daquela trilha, conhecer a cachoeira e tirar umas fotos legais. Nada sério,

Vem mergulhar?

   Gosto da metáfora, do ato, do fato, da sensação. Tem umas praias lindas, tem peixinhos nadando, tem um calor de matar, tem esse sol maravilhoso, tem o meu mar. Eu vou andando devagar, controlando o frio dessa água pela manhã, espero você se jogar. Não demora, não. Vem mergulhar?     Vem descobrir as belezas das profundezas, deixa os problemas na superfície. Prende a respiração, depois observa como as bolhas procuram o ar. Tá frio, eu sei. Mas isso acostuma. Tá lindo, eu sei. Fica mais bonito quando você não está sozinho, não é? Eu nado um pouco, se movimentar ajuda a aquecer. Você chega mais perto, eu sorrio. Vamos nadar para lá, tem coisas que quero te mostrar.    Vem mergulhar no meu mundo, e primeiro descobre as sutilezas que evaporam do meu sorriso todos os dias. Como gosto de ver o céu todo azul, mas como também amo um dia de chuva com um pijama bem macio. Como gosto de livros bobos e leves, como me emociono com textos marcantes e pesados. Como amo comer, e se puder, pr

Devaneios de tempo e espaço

   A possibilidade de nossa história impossível me instiga. Sempre fui de sonhar alto, de não me prender ao chão, de andar na contra-mão. Dificuldade se chama inspiração. Vou criar asas, gritar com vontade, e minha voz vai chegar aí, você vai ver. Está pensando nela agora, eu sei. Essa minha voz fanha e irritante, que conta histórias longas e se perde no meio do caminho. Essa voz que perde sua força quando te vê chegar, e que ri sem ter vergonha quando está perto de você. Por quanto tempo ainda pensará?     As interrogações da nossa não-história teimam em virar ponto final, e eu ainda torço por reticências. Digito espaço, penso em dúvida, olho para o horizonte e enxergo o infinito. É isso aí. Tudo tão vago, tudo tão inacabado, tudo tão cheio de referências e ao mesmo tempo tão vazio. É uma tremenda ilusão da nossa parte pensar que podemos ser inesquecíveis, que somos memoráveis, que somos especiais. É uma ilusão maior acreditar que pessoas são substituíveis, que histórias acabam, qu

Se

   Se tem frio, cobertor. Se tem calor, mar. Se tem sonho, persistência. Se tem cansaço, sofá. Se tem fome, comida. Se tem sono, cama. Se tem angústia, pergunta. Se tem culpa, verdade. Se tem solidão, televisão. Se tem saudade, telefone. Se tem distância, avião. Se tem dança, me dê a mão. Se tem atraso, pressa. Se tem tempo, calma. Se tem desejo, peça. Se tem loucura, ouse. Se tem memória, guarde. Se tem medo, superação. Se tem carinho, cuidado. Se tem amor, ame. Se der errado, não é falta de oportunidade, mas de vontade.

Quando o coração apertar

   Você teve um dia difícil, não foi? Eu entendo. Pode ser que tenha engolido sapo no estágio, brigado com o pai, sentido saudade do avô, ido parar no hospital, tirado uma nota baixa, lembrado dela. Eu entendo, já disse uma vez. Foi um dia cansativo, dolorido. Mas sabe de uma coisa? Quando o coração apertar, respire fundo. Tente lembrar das tantas vezes que você até esqueceu de respirar, ou não tinha ar, e tudo isso porque estava extremamente feliz.    Quando o coração apertar, delicie-se com um maravilhoso chocolate, ou doce de leite, você escolhe. Lembre da delícia que é a vida quando você não precisa se preocupar, quando sorri sem precisar ter um porquê. Quando o coração apertar, entre na chuva. Mas, por favor, não vá com capa e guarda-chuva. Entre disposto a se molhar. Deixe que as gotas escorram, que lavem o rosto, a roupa e a alma.    Eu sei que o dia foi difícil, que talvez você esteja com dor de cabeça, febre, frio ou bolhas nos pés. Também sei que nenhuma dessas coisa

Quando ela volta?

   Ela volta quando o trabalho acabar. Isso, quando o chefe liberar, quando a demanda diminuir, quando o cliente sair, quando a empresa fechar. Talvez ela demore um pouco mais. Ela volta quando o metrô chegar, quando o ônibus passar, quando o táxi parar, quando o engarrafamento andar. Talvez demore ainda mais. Ela volta quando o happy hour acabar, quando a amiga cansar, quando o filme terminar, quando a festa parar. Ela volta quando o dia amanhecer.     Talvez ela volte mais cedo. Se a consulta não demorar, se a criança ligar, se tiver que fazer o jantar. Talvez ela volte ainda mais cedo, se a mãe piorar, se o filho se acidentar, se a casa cair, se a empresa falir. Talvez ela fique em casa. Se a filha gripar, se ela cair de cama, se o médico mandar. Talvez ela até precise relaxar, mas parada? Ah, ela não fica, não.    Mas quando mesmo ela volta? Quando o dólar aumentar, quando não conseguir se sustentar, quando for impossível continuar a viajar. Ela volta quando a comida da ru

Encontrei vocês

   Estava passeando pela minha cabeça e encontrei você. Nossa, quanto tempo! Eu sorrio. Faz o quê? Uns três anos? Quatro, talvez? Não, acho que seis. Meu Deus, passou tão rápido! Você está diferente, hein? Aham, cortei o cabelo, clareei no sol, perdi peso, tirei o aparelho, fiz as sobrancelhas e aprendi a me maquiar. E você? Nossa, nem me conta! Perdeu de ano, largou o colégio para jogar futebol, passou na melhor faculdade, viajou, raspou a cabeça, malhou, parou de malhar, começou a namorar, tá saindo com aquela menina que era a maior patricinha, me dá seu celular? Não, não, melhor não. Vamos só tirar uma foto para lembrar esse momento inédito. Isso, enquadrou todo mundo? Aê, digam xis! Nossa, ficou ótima! Acho melhor eu ir, tô meio atrasada, um dia a gente se encontra por aí. Você eu vejo toda hora, você é mais difícil, com você vai ser quase impossível eu me bater. Mas quem sabe, né? Essas loucuras que o destino costuma promover...

Sobre finais infelizes

   Finais não são felizes. A gente não está num conto de fadas ou numa novela, em que o simples fato de chegar o final faz com que os vilões morram/sejam presos/desapareçam, as mocinhas casem e engravidem, e os figurantes simplesmente sorriam. Não. Aqui, os finais sempre carregam uma tristeza, uma saudade antecipada, uma vontade de voltar atrás, um quê de culpa, um pedido de desculpa. Finais podem até ser leves, mas sempre haverá um lado da balança para quem pesará mais. As lágrimas, as mágoas, as expectativas frustradas. Finais são duros, difíceis de serem engolidos, amargos. Finais machucam, mas finais libertam.    Finais substituem a angústia da incerteza sobre o que está acontecendo - ou o que já não está acontecendo mais - pela certeza da tristeza de que acabou. E, depois que essa tristeza deixar as lágrimas caírem, o coração acalmar, a saudade toma o seu lugar. Porque os finais vão embora e mesmo assim deixam tanto de si, que é difícil não lembrar. Mas até a saudade, uma da

Quem tem medo é você

Quando literatura e música se juntam, a gente adapta a realidade para ter uma boa história: Aquela menina te ensinou - não quase tudo, mas algo interessante ou importante -, eu sei. Talvez fosse uma paixão, já pensou que ela te tratava como um rei? Ela fazia milhões de planos, enquanto você só queria estar ali. Queria mesmo? Talvez você tivesse outro lugar para ir. Mas egoísta que você é, esqueceu de avisar, o que ela perguntou, era hora de acabar? Ela estava completamente perdida, e por isso se agarrava a você também. Você não se agarrava a ela, dizia que não queria ninguém. E diziam "ainda é cedo, cedo, cedo". Cedo? Ela decidiu terminar o que você até evitava começar. E o que ela descobriu, espero que você tenha aprendido. Ela ouviu que você tinha medo, e perguntou "medo de quê?". Falaram mais do que deviam, foram muito mais além. Ela te disse "eu entendi, vou sumir para você; juro que não falo mais, um dia a gente se vê". E os dois pensavam "a

Eu escrevo sobre sentimentos

   Relacionamentos? Não exatamente. Pessoas? Também. Eu escrevo é sobre sentimentos. Mais do que pessoas e seus relacionamentos, mas a expressão da alma dessas pessoas.     Eu escrevo sobre gostar, e gosto disso. Escrevo sobre sofrer, e sofro por não escrever. Eu escrevo sobre sentir saudade, sobre se arriscar, sobre querer. Quero continuar escrevendo.    Se são meus? Talvez. Alguns. Outros também. Passam a ser quando transformo em palavras. Algumas - muitas - histórias vêm de conversas, de outras histórias que não são minhas. Não quer dizer que não senti, só que não vivi.     Eu escrevo sobre vontades, imaginações, desejos, decepções. É que é isso que nos move, e já vimos e pensamos em tanto que não nos toca... Sim, há muitos que já falaram o que ainda vou falar. Sim, há muitos que já sentiram muito mais do que eu. Mas eu continuo a querer falar, e esse, meu caro, é o mais puro dos meus sentimentos. 

Deixa assim ficar, subentendido

   Eu gosto tanto de você que prefiro não incomodar. Gosto tanto que chego a me contradizer, e não aceito o pouco que não deixo de querer. Tanto, que tento me convencer a desgostar, a desfalar, a esquecer. Gosto tanto que prefiro ficar longe, que me forço a sumir, a me fazer de desinteressada ou despretensiosa.    Eu gosto tanto de você, que mesmo sem querer, ainda penso, ainda recordo. Sabe, eu não quis gostar tanto assim. Eu nem sabia gostar assim, e nem sei se aprendi. Eu só sei que sinto, e que minto, que finjo não ligar. Tento convencer meu coração a deixar passar, a entender que o que aconteceu se resume a isso, que o meu sentimento não vem junto com o seu. Ainda não funcionou. Ainda não desgostei. Mas isso vai acontecer, pode crer. Eu gosto demais de você, mas eu gosto mais de mim.

Esquece

   Me fingi de morta para tentar te esquecer. Me fiz de desmemoriada, de retardada, só não de suicida. Me fiz de forte, madura, resolvida. Aí me vi sonhando com você. Droga, cadê o controle do inconsciente? Saí mais, escrevi mais, me maquiei mais. Sorri menos. Não curti sua foto, curti minha vida, não compartilhei minha felicidade com você. Entenda, não foi falta de vontade. Foi racionalidade, foi amor próprio, foi não querer incomodar. E aí me acostumei, me acomodei. Dizem que se acomodar é ruim, mas nesse caso, discordo. Passei a me maquiar menos, e deixei que todos vissem a realidade sob minha face. Voltei a sair menos, e as minhas noites em casa também se tornaram não apenas toleráveis, mas agradáveis. Perdi um pouco do assunto da escrita, mas os textos ainda estão lá. E o sorriso? Esse anda normal, vagando por aí, sem esperar. Às vezes aparece, dá gargalhadas até doer, às vezes me olha de longe. Ele só não me deixa, nunca, sofrer por você.

Eu falharei

   Eu te prometo falhar. Prometo que um dia vou te responder mal, prometo que um dia vou demorar de responder, prometo que um dia vou te cobrar quando demorar para falar comigo, prometo um dia te esquecer. Pode anotar: prometo que vamos brigar, que vou chorar, que vou te irritar, que vou me prometer não mais falar. E até nisso eu vou falhar.     Prometo furar um compromisso, errar o ponto do arroz, perder o horário do filme. Prometo cometer uma gafe com a sua mãe, te deixar numa situação complicada com o meu pai, e te apresentar a mais fofa das avós. Não se preocupe, ela não vai se lembrar de você nas horas seguintes. Eu prometo te escutar, mas pode esperar que depois eu vou falar. E eu falo muito, caramba.    Então, qual a graça? Eu te prometo tentar. Eu insisto, até quando é mais inteligente desistir. Talvez seja mais uma falha minha, ok. Eu vou tentar até esgotar, até a última gota secar. É isso, eu te prometi falhar. E se eu tenho um defeito, querido, é falhar até nisso. Porqu