Comecei a gostar de poesia quando descobri que Mário Quintana me traduzia melhor do que eu mesma. Eu nem estava buscando me entender e, por acaso, aqueles quatro versos saltaram aos meus olhos. Assim, entre tantas outras informações jogadas na internet, Do amoroso esquecimento me fazia entender que há amores que se vão, mas não te deixam ir.
"Eu agora, que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"
E me vi tão refletida, que pensei que aquilo seria uma constante na minha vida. Eu me apaixono fácil. Por livros, por comidas, por filmes, por lugares. Não por pessoas. Simpatizar é fácil, gostar também. Fazer me apaixonar? Vai demorar um pouco, meu bem. Era um caminho difícil, longo, tortuoso. Mas quando se chegasse lá, não haveria mais volta. Descobri que sou do tipo que, para o amor - e não as brigas - dou um boi para não entrar, mas uma boiada para não sair.
Você apareceu de repente, mexeu comigo e eu me apaixonei loucamente. Foi tudo errado, foi tudo tão maravilhosamente diferente do meu padrão de certo e esperado. E você parecia querer entrar na minha vida, e a cada passo que dava, eu abria os braços para que você tivesse mais espaço, para que se sentisse bem vindo. E a cada sorriso seu, eu abria meu coração. E você desapareceu. Assim, tão de repente quanto tinha vindo para mim.
Demorei para juntar os cacos, tentei jogar tudo para o alto, mas nada adiantou. Chorei, limpei as lágrimas e fingi que tinha te superado. Tolice. Até quem me via na fila do pão sabia que eu suspirava por alguém que já não estava mais lá. E eu fingia que te esquecia, e nessa de te esquecer, lembrava da falta que sentia de você. E a latência da sua ausência incomodava, torturava. E você sempre esteve lá, sabe? Você nunca deixou de estar aqui, porque sempre pensei em ti. Talvez você soubesse disso, e talvez se sentisse bem por se saber tão querido. Talvez você se sinta confortável por saber que, se nada der certo, ainda há algum lugar para voltar, ainda há alguém para amar.
Mas e se um dia eu perceber que já não gosto mais de você? E se um dia esse sentimento diminuir até morrer? E se um dia, logo eu, que odeio mal entendidos, não der mais importância ao que não ficou entendido entre nós? Talvez eu até perceba que nunca houve um nós, que sempre foi tudo sobre você. Mas e se o seu sorriso não for mais capaz de derreter o gelo que você me deu? Se um dia eu te encontrar em alguma esquina do esquecimento, prometo que, depois de me esbarrar no pouco de amor que você me deu, me deixo ir. Porque acabo de perceber que ele, coitado, já se foi há muito tempo.
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