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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Palavras amantes

   Aquelas palavras que não são só minhas, nem sequer de língua alguma. Palavras que são repetidas a todo momento, em todos os cantos do mundo, por tantos casais, que chega a ser cansativo pensar. Incrivelmente, cada vez que saem da boca de alguém - um alguém específico e multiplicado com intermináveis variantes por 7 bilhões de pessoas, pois são todos únicos e especiais, diferentes entre si, mas todos esses passíveis de caírem nos mesmos clichês - essas palavras conseguem parecer surpreendentemente novas. E são.     Porque o que define a emoção que uma palavra é capaz de causar não é a classe gramatical, a divisão silábica ou a tonicidade. Essas coisinhas imutáveis são igualmente insignificantes nos momentos em que se ouve - se sente - aquelas palavrinhas mágicas. O que define todo esse momento se chama circunstância: e ela muda a cada casal, país, época, cultura e gosto.    O que define tudo isso é justamente a ausência da palavra propriamente dita, só a latência naquele silên

Sou de infinitos com ascendentes em exageros

   Perguntaram meu signo, respondi que sou de touro. Com ascendente em sagitário. E a Lua em câncer. E Vênus eu esqueci. Mas acho que gravar astrologia não é para mim. Apenas me dê a interpretação, ou leia minha mão. Qualquer resultado vai te falar dos meus tantos infinitos. E exageros. E inconstâncias.     Eu gosto assim: tudo ou nada. De preferência, tudo. Eu gosto daquela ideia corajosa de mergulhar de cabeça, de se jogar com vontade. Mesmo que geralmente eu entre aos poucos na água fria. É que, enquanto minha pele se arrepia, minha imaginação já mergulhou, e até voltou. Eu gosto daquela sensação de é aqui, e é agora, e é muito mais. É infinito, mesmo que por um segundo. Ou uma semana, ou dois meses, ou trinta anos. É para sempre porque existe memória. E é muito mais, porque sou fã de exageros.     Eu não sinto fome, eu morro de fome. Eu não gosto de chocolate, eu sou apaixonada por chocolate. Eu amo ler, e escrever, e imaginar, e criar, e afins. Eu não estou a fim. Eu estou

Arrisquei um poema

O verso Da sua conversa Virou ao avesso Tudo que já estava atravessado Na sua prosa A poesia Provocou em mim Pura alegria A simpatia A fantasia A sintonia Me sinto criança Redescobrindo palavras Descobrindo sentimentos Aprendendo a rimar

Meus textos ainda são todos seus

   Talvez seja óbvio para você, com tantas coisas que deixo perdidas nas entrelinhas. Talvez você ache que me encontro sozinha. Engano seu. Não estou nem tristinha. Mas é que meus textos ainda retratam você, mesmo tanto tempo depois. E talvez muita gente já nem ache mais graça, mas como eu poderia mudar? Ainda não achei graça em outro olhar.    Meus textos ainda são todinhos seus, mesmo quando as histórias não têm absolutamente nada a ver. É que os sentimentos que as personagens sentem, foi você quem me fez sentir. Meus pensamentos ainda são, em parte, seus. Entre tantas coisas que há para pensar, às vezes me pego lembrando de algo, e foi você quem falou. Tanta coisa que você me ensinou, e eu nem pensava em aprender.     Meus textos ainda são todos seus, porque você foi, mas deixou tanto de si em mim, que eu ainda não consegui ir. Ou não quis. Aceito que parte de você ainda esteja aqui, e deixo-a ficar, assim como assumo que essas palavras são para você. Assim como assumi gostar.

Amiga, ninguém aguenta mais te ouvir falar dele

   Eu sei que foi bom, que foi mágico, que esse foi o seu romance de cinema. E que você ainda gosta dele, e que lembra dele nos mínimos detalhes do dia a dia. Eu sei de tudo isso, e realmente sorria com o bem que ele te fazia. Não precisava nem você contar que estava feliz, porque o brilho no seu olhar mostrava que feliz era pouco - você estava radiante. E, meu Deus, completamente apaixonada. Foi aí que todo mundo começou a enjoar.    Acho que você guardou todos os seus assuntos tão interessantes e mirabolantes para ele. E com os outros você conversava sobre como a conversa com ele era boa. Aí você também reservou todo o seu tempo para ele. E com os outros você rapidamente falava que estava falando muito com ele. E você doou todos os seus sentimentos para ele. Mas aí, quando ele não quis, você não conseguiu pegar de volta e dar a outro alguém. Era doação. Era de coração.     Ai, amiga, eu sei como a sua história é bonita. Já sei de cor como vocês se conheceram, como saíram, como

Apesar de você

   Ela se espreguiça para levantar, deixa a cama desarrumada, ignora a cortina fechada e segue até a cozinha para fazer uma torrada. Apesar de você, ela continua fazendo tudo igual. Só não ouve a sua respiração forçada de quando o nariz já está completamente entupido. E não liga se você não reclama sobre forrar a cama. E não está nem aí para os primeiros raios de sol do dia, que você tanto insistia que melhoravam a energia da sua alma.    Ela toma um banho devagar, se veste com pressa e escova o dente apertando a pasta pelo meio. Apesar de você, ela continua completamente igual. Só que não te ouve apressado, pedindo para ela adiantar, porque você, por favor, tem que ir trabalhar. E ela se veste sem ligar para a cor da calcinha que vai escolher, e vai ser bege sim, que você não está nem aí. E ela não te ouve mais falar de como é absurdo apertar a pasta pelo meio, ou suspirar profundamente e começar seu difícil trabalho de arrumar a bendita pasta de dente.    Ela fecha a porta no