Pular para o conteúdo principal

Abraço de aeroporto


   Eu não sei quando você vai voltar. Mas sei que vai demorar muito. E que talvez você não volte. Talvez para visitar, não ficar. Esse abraço não é o último. Te prometi que um dia vou te visitar. Sabe lá Deus quando. Mas eu vou tentar. Juro que vou. Um dia, quem sabe, eu não apareço de surpresa e você me mostra sua nova cidade?
   Aperto esse abraço mais forte, como se pudesse te manter aqui. Talvez seja um pouco egoísta da minha parte. Na verdade, é sim. Sei que ir é o melhor para ti. Tem um mundo inteiro te esperando lá fora, tem tanta gente nova para conhecer, tem tantas oportunidades para aproveitar... Mas é que também tem tanta coisa aqui que parece não fazer sentido largar. E natais e anos novos são tão longe!
   Quero dizer que vá, e vá logo, sem olhar para trás. Quero te segurar e botar juízo nessa sua cabeça oca, te empurrar até o estacionamento e voltar para casa, dizer que seu lugar é aqui, contente-se e seja feliz. Mas eu sei que não é. Seu lugar é o mundo todo. Sua felicidade está em viajar, em crescer, em conhecer. E eu não tenho o direito - nem a audácia - de te conter.
   Esse é o abraço mais difícil de todos. Não sei o que fazer, o que querer, o que dizer. Me deixo chorar, mas não, você não me faz triste. É a sua ausência, que cada hora parece chegar mais perto, que me deixa com o coração na mão. Você me enche de orgulho. Agora, me solta desse abraço, me diz para deixar de ser besta e parar com essa frescura, dá aquele sorriso todo confiante e vai. Vai aumentar ainda mais esse meu orgulho, espalhando esse sorriso por aí. 

P.S.: Esse é um dos poucos textos do blog que não necessariamente fazem o tipinho romântico, mas eu não podia deixar de escolher a imagem de "Love, Rosie", nem de comentar sobre ela, e o quanto o livro e o filme (no Brasil, Simplesmente acontece) são uma gracinha! E de dizer que, até aí, eles são apenas amigos mesmo!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Amor-passarinho

O amor precisa ser livre. Se não for, simplesmente não será amor. O amor precisa ser livre como passarinho. Precisa poder voar. Precisa ter a liberdade de construir outro ninho. O amor precisa ficar porque quer estar. Não adianta muito ficar apenas porque as asas cortadas já não conseguem voar.  O amor precisa ser livre - no início, no meio e no final - para que continue sendo amor, não posse. Precisa ser livre para poder se transformar, sem se prender em amarras. Só o amor livre consegue se transmutar em outras formas de gostar. O amor precisa ser livre, ainda que seja para voarmos para longe dele. É preciso perceber a hora de pousar, mas também a de ir embora. O amor livre é aquele que se alegra com os grandes voos do outro, mesmo que os ventos levem para outros caminhos. Gosto da metáfora do amor-passarinho: dos voos, dos ninhos, da beleza de poder ir, da sinceridade do querer ficar, da independência de conseguir planar sozinho.  Meu amor-passarinho vive d

Toda noite de insônia eu penso em te escrever

   Eu amava ouvir sua voz. E também amava ler suas mensagens e imaginar que estava ouvindo sua voz. Adorava o jeito que só você me chamava, as brincadeiras que só você entendia, as conversas que só a gente tinha. Eu escrevi tantos textos sobre você, e quase nenhum deles você chegou a ler. Tantas coisas eu pensei em te dizer, e você já não estava mais aqui para escutar.    Você sabe que eu costumo dormir fácil. Quando a aula está chata, quando o caminho é longo, quando ainda há dez minutos antes do próximo compromisso. Eu mal fecho os olhos e já estou dormindo. Mesmo assim, andei tendo umas noites de insônia, uns sonhos perturbados. Em quase todas elas, pensei em te escrever. Pensei em te contar da nova receita que eu aprendi, daquela minha amiga que terminou com o namorado babaca, da faculdade que anda uma loucura. Às vezes eu nem tenho nada para falar, mas ainda vem à cabeça aquele hábito antigo de pegar o celular, escrever nem que seja apenas “olá”.    Toda noite de insônia eu v

Nosso momento passou

   Já passou da hora de te dizer adeus. Já passou da hora de me virar, andar para longe sem olhar para trás. Já passou da hora de tirar suas fotos dos meus porta-retratos, de jogar as flores mortas fora, de tirar a água do jarro. Já passou da hora de guardar suas cartas, devolver o que você esqueceu em minha casa, quitar as contas dessa história.    Já deixei a hora passar algumas vezes, mas juro que agora é oficial! Coloquei no meu despertador e tudo. Preparei a sala, a mala e as lágrimas. Te espero com um jantar saboroso, um clima agradável, e te preparo para ouvir o que menos queria. Mas é que eu preciso. Nós precisamos, porque já não existe mais um nós vivendo sob isso tudo. Separei todas as suas coisas nessa mala, que assim você não precisa reviver os nossos momentos, nem os nossos ainda não-momentos, que não vão mais acontecer, só para recolher o que falta. Você não merece passar por esse sofrimento. Mas merece menos ainda ficar preso a algo que já deu tudo o que tinha de