Eu estava distraída, como sempre, esperando que a internet do celular carregasse, e ainda indecisa sobre a roupa que usaria à noite. Continuava confusa, mas agora era diferente. Sorria por tudo, tranquila e contente.
Era só mais um dia normal, mas o sol parecia brilhar mais forte. As pessoas continuavam a andar apressadas pela rua, mas seus rostos pareciam estranhamente mais felizes. Eu observava as nuvens, curtia fotos aleatórias, sorria por simplesmente perceber que o céu estava azul. E, de repente, você dobrou a esquina, concentrado na ligação que fazia. Meus sapatos coloridos contrastavam com a sua roupa formal, meu andar leve contrastava com a sua pasta pesada, cheia de papéis e problemas. Você parecia tenso e impaciente, esperando o sinal para que pudesse atravessar a rua. Eu não tinha hora marcada, não tinha que provar nada.
O sinal se abriu, e você logo andou, olhando o relógio. Eu olhava para o seu rosto, até que, quase sem querer, me esbarrei em você. Meu chocolate quente, já não tão quente assim, voou e desceu direto para a sua roupa, e a sua pasta se fez em mil papéis para eu juntar. Não precisava de explicação, era só a liberdade que o destino me dava para te encontrar.
Te tirei da ligação, te tirei a razão, te tirei do meio da rua. Puxei a sua mão correndo, assim que o sinal fechou e você continuava lá, abaixado, catando as últimas folhas. Corri com você até a calçada, me virei e apenas sorri, porque, sabe como é, tem um restaurante legal a duas quadras daqui e eu tenho que te recompensar. Saiu assim, sem saber por quê. E, sem se preocupar, você aceitou. Despiu o paletó como se despiu do alter ego empresário-ocupado, e topou tomar um café - que se prolongou com salgado, torta e um chocolate, mesmo que depois tenhamos confessado que já havíamos tomado café da manhã e que estávamos completamente empanturrados - com uma estranha que te melou na rua.
Nosso café marcou o almoço do dia seguinte e a saída da sexta-feira. E você, tão correto e tão bonito, nem usava de ser um dos deuses mais lindos para me conquistar. Porque, quando eu já estava doidinha por você, quando você se ofereceu para me deixar em casa naquela noite em que finalmente me beijou, e a voz do Renato começou a cantar Eduardo e Mônica, você disse que aquela seria a nossa música. Você ganhou milhares de pontos com o cantor, mas ainda faltava algo. "Não, como é o nome daquela outra música?", eu perguntei, e a nossa sintonia fez com que você logo respondesse "Quase sem querer". "Isso!", eu disse. Porque foi assim que eu conquistei você.
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