Eu vi que você me olhou, ainda meio longe, mas eu sou um pouco tímida. Não sei se você percebeu que, apesar de ter abaixado os olhos, eu abri meu sorriso de canto de boca. Tudo bem, eu sei que você não tem como saber exatamente o que isso significa para mim, mas eu posso te explicar, é só vir aqui.
Minha amiga acha que você estava olhando para ela, e tá certo que tem não sei quantas garotas juntas, várias exibindo suas pernas bronzeadas e seus decotes avantajados, mas, naquela fração de segundo, eu sei que seus olhos se cruzaram com os meus. E eu não posso dizer com certeza se seus olhos são cor de mel ou castanho escuro, então chega mais perto para eu observar. Não sei se você reparou, e tá tudo tão escuro, mas você me fez corar.
Isso, vem pra cá, devagar. Não puxa meu braço, só pergunta meu nome. E eu sei que a música tá alta, que tem mil pessoas cantando juntas, que a letra é linda e que dá vontade de acompanhar, mas presta atenção no que eu vou falar. Meu nome é Clara, não Carla nem Lara. Eu estou com as minhas amigas e não posso me perder, então não me chama para nenhum canto que cogite pensar. Mas, se você quiser ficar aqui e conversar...
Me diz o seu nome, sua idade e o que faz da vida. Eu te digo quantos anos vou fazer daqui a não sei quantos meses, e o que amaria fazer da minha. Me pergunta se eu gosto da banda, que eu vou responder que amo, e talvez você concorde com a cabeça. Pergunta qual é a música que eu mais gosto, porque vou ter dificuldade para escolher uma só, mas adoro desafios.
Aí você já pode dizer que, nossa, como eu sou linda. Pega uma mecha do meu cabelo, enrola nos seus dedos e fica girando no ar, só para fazer o relógio parar. Me deixa ansiosa assim, esperando a hora que você vai falar. Mas não, não fala mais nada, só me abraça como se o mundo fosse acabar. Me abraça como se me amasse desde sempre, como se a noite fosse só nossa, como se não tivesse mais ninguém a cantar. E aí, me beija devagar, como se isso nunca fosse passar.
Faz parecer que a gente tá loucamente apaixonado, que você pretende se casar. Aproveita nosso momento como se fosse o último e não o primeiro, faz ele durar mais do que o único, como realmente vai ser. Faz ele ser inesquecível no seu pouco tempo de show, e depois some sem pegar meu celular. Deixa o gosto de quero mais, deixa a lembrança sem cobrança. Porque eu não vou esperar o celular chamar, só vou continuar a ouvir a nossa breve música tocar.
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