Estavam os dois sentados no chão, um olhando profundamente para os olhos do outro o máximo de segundos que pudesse suportar, o que não era muito. Viravam os rostos para as pessoas que passavam à sua volta, fingindo demonstrar interesse por qualquer coisa que lhes tirasse a tensão daquele momento, mas nada realmente interessava. Parecia mesmo que estavam imersos numa bolha de ar pesado e denso, daqueles que poderia ser cortado com uma faca.
Ela começou a falar, mas foi interrompida pela repentina ansiedade dele para falar também - não que soubesse o que falar, mas precisava dizer alguma coisa, e abriu a boca como se aquela fosse sua última inspiração - e acabou não dizendo nada. Ela respirou fundo, reorganizou as palavras pela milésima vez, tentou engolir o nó na garganta - tentativa falha - e repetiu, devagar e baixo, o que já tinha treinado em frente ao espelho. O que ela não tinha treinado, nem nunca poderia, era assistir à reação dele, triste, porém calma, acenando com a cabeça.
Porque, por mais que fosse verdade e ela soubesse que, no fundo, estava certa, não queria que ele concordasse. Não queria que ele aceitasse que não valia mais à pena, porque ela ainda queria que valesse. Não queria que ele topasse dar dois passos para trás, nem que empacasse no mesmo lugar, porque ela já pensava no próximo passo adiante. Ela não queria continuar aquele caminho sozinha, por mais que permanecer parada a fizesse sofrer.
Mas ele foi mais compreensivo do que ela gostaria, foi mais sábio do que em todo o resto do tempo, foi mais maduro - muito mais - do que nos momentos em que deveria e, infelizmente, não foi. Como fez tudo isso? Declarando sua imaturidade como empecilho justamente para quem não ligava. Na verdade, ligava, mas, por mais que dissesse o contrário, ainda estava disposta a suportar. E talvez um dos problemas fosse esse, porque ela não deveria suportar nada. A ideia não podia ser essa. Mas quem, em sua sã falta de consciência, apaixonada, ligaria para qual era a ideia? A ideia era estar com ele, e ponto final.
Ele chegou a dizer que gostava muito dela, e que aquele era o seu relacionamento mais longo. Só não era maduro o suficiente para assumi-lo como a mesma palavra que acabara de pronunciar, o status apavorante de "relacionamento". E, por mais que ela gostasse, por mais que ela ainda quisesse que ele voltasse atrás e dissesse que deveriam tentar de novo, por mais que ela soubesse que sentiria saudades dele e do seu carinho, aquilo não era falta de maturidade, era covardia.
E aquela mistura toda de sentimentos e desejos reprimidos, aquela efervescência e embrulhamento que sentia em seu peito, aquilo não pode se conter. Ela falou sem medo, a paixão saindo de sua boca com o gosto amargo da raiva. Covarde, por não reconhecer o que sentia. Mais covarde ainda por reconhecer que sentia, mas renunciar àquilo por puro medo. Mais uma vez, ele sabia que ela estava certa e, portanto, não respondeu, se ignorássemos as lágrimas furtivas como sinal de resposta. Ela fingiu que não viu, amor e ódio lutando para que dissesse mais alguma coisa, que sugerisse uma reconciliação ou enfiasse o dedo na ferida de vez.
Ele não disse mais nada, ela também não foi capaz de continuar. Estava acabado. Todas as risadas, todas as mensagens, todas as expectativas, todos os beijos e abraços. Tudo que um dia acreditou estar escrito nas estrelas, em um segundo foi por água abaixo. Ele também se abaixou, derrotado pelo fim do que, se não prometia um futuro, pelo menos era um presente bom, muito bom. Deslizou todo seu corpo até que estivesse completamente deitado no chão, ainda perto do corpo dela, parado e se controlando para não chorar. As outras pessoas não importavam, as aulas que estavam perdendo não importavam, o teto acima de suas cabeças - manchado e com uma ou duas marcas de infiltração - também não importava. Ele só ficava olhando para cima, observando as estrelas mortas daquela relação.
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