Havia aqueles momentos em que ela só queria ficar sozinha, lendo um livro e comendo alguns chocolates. O único barulho que se ouvia na casa era o ruído do ventilador, tão fraco e ritmado que, por ser ouvido, era mais a confirmação do silêncio do que um barulho propriamente dito. Aquele silêncio era extremamente normal, e até confortável. Não havia nada a dizer, nem ninguém a ouvir e, portanto, o silêncio era o mais natural possível.
Havia também o silêncio forçado, que - desculpem, mas é a regra geral - inevitavelmente seria interrompido por cochichos ou risadinhas. Era o tipo de silêncio imposto por alguma situação, lugar ou pessoa que julgava ser mais importante ou digna de atenção do que as outras pessoas, suas histórias e comentários. O tipo de silêncio que se era obrigado a fazer em aulas, palestras e coisas do gênero.
Por fim, ela classificava o Silêncio de Hospital. Não que só acontecesse em hospitais, mas a situação típica que o descrevia era quando alguém muito amado estava em um procedimento de risco, e todas as pessoas queridas esperavam do lado de fora, medrosas e caladas, por saberem que nenhuma palavra que falassem ajudaria na situação.
Mas não, aquele não era, de forma alguma, um daqueles tipos de silêncio. Se encaixava na categoria dos Silêncios Românticos, subcategoria "tensos". Muito tensos. Mais especificamente, aquele era o temido Silêncio dos Não Ditos. Porque ela sabia o que deveria dizer, sabia o que ele queria falar, sabia que ele já sabia o que ela queria falar, e também estava ciente de que ele já estava ciente sobre tudo que ela também sabia. No fim das contas, os dois sabiam de tudo, e também sabiam disso. Mas, mesmo assim, não falavam sequer uma palavra. Nem sobre seus pensamentos, nem sentimentos, nem sobre seus atos e forma de comunicação: uma mistura de explícito e indireto, como só eles faziam e entendiam. E, no fim das contas mesmo, por mais que soubessem de tudo, ninguém fazia nada. Os não ditos continuavam ali, apenas latentes.
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