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Mostrando postagens de 2019

Não precisa se desesperar

Oito meses atrás, eu estava chorando, vermelha e com o nariz entupido, deitada numa cama alheia como se fosse a minha. Falava sobre como esse ano seria importante e difícil. Eu já sabia. Ao mesmo tempo, me culpava por ter perdido uma inscrição que achava que precisava fazer. Eu não sabia o quanto seria melhor poder fazer depois. Eu falava sobre como precisava decidir coisas fundamentais na minha vida, e como não tinha a mínima ideia do que fazer com elas. E chorava. Muito. Agora, oito meses depois daquela sessão de choro encarando o teto, eu continuo encarando a vida: qual o próximo passo? Qual caminho é melhor escolher? Por que ainda não tenho ideia do que fazer? Já tive mais outros momentos de choro por causa dessa indecisão. Já tive outros tantos momentos de choro por emoção. Realmente, tem sido um ano importante, difícil e cheio de tensão. Quando olho para trás, para aquele meu desespero, percebo que, ainda que tudo pareça tão confuso e perdido, é melhor não se desespe

Arrisquei um poema - II

Que ousadia a sua Supor que eu estava apaixonada Justo por você Eu, que nunca fui tua Que só estava animada Feliz por um bem-querer Mas que prepotência a sua De achar que me entende Melhor do que digo sentir Se nunca gritei teu nome na rua Se não compartilho do que sente Como pode achar que menti? Pra realmente me entender Você teria que prestar atenção Nos detalhes profundos do coração Como pode me crer enlouquecida Se no seu olhar Nunca estive perdida? Paixão é pra gritar no aeroporto Pra rodar o mundo E se fazer de doido Paixão é dividir cama apertada Acordar descabelada Sem vergonha de nada E você achou que me conhecia Sem nem fundir sua alma na minha Que heresia! Não vá confundir amor com dor Ou nenhum dos dois com eu e você Se quis resumir a beijar e esquecer Minha memória é boa E tem alta definição Eu sei bem o que é paixão E disso tudo, posso te dizer Sinceramente, que pena Que você nã

Não vá com calma

Ei, menina. Você mesma, questionando seu jeito de viver e de lidar com os outros. Não questione tudo isso tantas vezes, não. No fim das contas, você fica doida de pensar e se perguntar, e os outros nem se importam com o que vão te falar. Você já foi taxada de intensa demais? Faz parte. A maioria das pessoas prefere se manter na superficialidade. Ainda assim, não mude seu jeito pra tentar se enquadrar nesse padrão que não te pertence. É a sua essência. E é linda. Um dia, nesses esbarros loucos que a vida dá, você acaba se encontrando com gente tão intensa quanto você. Prepare-se para a explosão desses momentos. Mas enquanto isso, nesses desencontros casuais, não aceite tantos "vá com calma" alheios. Vá na sua velocidade. Vá pelas batidas do seu coração. Vá com alma e vontade. Deixa essa preguiça de ser feliz pra quem não tem coragem. Menina, tem algo de mim em você. Nesse não saber o que fazer, não saber o que querer, não saber como ser. Tem algo de muito indeci

Te levo comigo

   Guardo uma foto nossa na carteira. Aquela que tiramos na cabine do shopping, que não percebemos o momento exato que iria disparar e saímos despreparados, rindo, olhando um para o outro, naturais, do jeitinho que a gente era mesmo.    No início, não tive coragem de tirar da carteira. Queria ter um pedaço de você guardado, ainda que você não estivesse mais comigo. Morria de saudades e queria me agarrar a qualquer coisa que pudesse me lembrar de nós. Foi uma fase estranha e meio desesperadora, mas necessária. Precisei passar por ela para aprender que até as piores sensações passam, e para também aprender a não deixar que coisas menores me desesperem.     Depois, acabei esquecendo. A foto foi ficando lá, virada de costas, para não estragar. E quando eu abria a carteira, não via. Ela existia sem que eu me desse conta. O tempo foi passando. O coração foi sarando. Fui me distraindo, me ocupando. Fui te ressignificando. Naquele momento, talvez não houvesse tanto sentido em a foto

É hora de dar tchau

Quando eu tinha um ano, Teletubbies começou a ser exibido no Brasil. Eu amava. Ficava no sofá assistindo e, quando o solzinho aparecia e dizia que era hora de dar tchau, me acabava de chorar. Eu chorava tanto, que meus pais criaram uma nova estratégia: compraram fitas cassete e iam gravando os episódios enquanto passavam. Quando o solzinho aparecia e eu já ia começar a chorar, tudo começava de novo. E isso se repetia por vários dias. Talvez por isso eu não tenha aprendido a dar tchau. Para mim, as coisas pareciam que iam continuar, se ninguém se mexesse para mudar. Cresci e aprendi a lei da inércia. Parecia que tudo fazia sentido. Mas também existe o atrito. E as reações químicas. E a relatividade. E o tempo. É. O Tempo. Para quem já escrevi tantos textos. Com quem teimo em lutar. Sobre o que fico refletindo sem parar. O tempo é o maior anti-inércia que existe. Ele muda tudo. Independente de querer, fazer, tentar. É preciso muito esforço para, com a passagem do tempo, não muda

Helena amava conversar

Helena era daquelas meninas doces: gostava de jujubas coloridas, filmes melosos e textos românticos. Acreditava que a vida podia ser linda, e gostava quando conseguia combinar seus vestidos esvoaçantes com o azul do céu aberto. Ela tinha um pouco a cabeça nas nuvens: sempre achava que as coisas podiam ser melhores, que as experiencias podiam ser mais bem vividas, que as pessoas tinham as melhores das intenções. Helena sempre acreditava na bondade dos corações. Era uma dessas meninas que, quase sempre, andava com um sorriso no rosto. Se não cumprimentasse com um "bom dia" animado, algo estava errado. Ela gostava de falar gesticulando: contava histórias com a emoção de quem tinha vivido, e com detalhes que poderiam formar um livro. Cada cena tinha um contexto, uma emoção, a descrição de uma expressão. Quem ouvisse poderia até sentir a sensação.  Helena gostava de conversar: se conectar, ouvir, falar. Achava que algumas das melhores experiências vinham das conversas.

É preciso ter coragem

A gente precisa ter coragem para tomar decisões. Fazer escolhas é abrir mão de todas as possibilidades que os outros caminhos oferecem - e que a gente não sabe se, caso fossem escolhidos, elas se concretizariam ou não. A gente precisa ter coragem para saber o que quer, para dizer o quer, para correr atrás do que quer, e para parar de correr atrás de quem não quer. A gente precisa ter coragem para saber dizer sim e não. Precisa ter coragem para saber ouvir sim e não. E precisa, mais ainda, ter coragem para enxergar sim e não quando alguém devia, mas não teve coragem de dizer. É preciso coragem para dizer palavras duras, quando elas devem ser ditas. É preciso ter coragem para dizer palavras doces, quando elas devem ser ditas. É preciso sabedoria para dizer palavras duras de forma doce, quando não há como não dizê-las. É preciso ter coragem para se abrir de novo. É preciso ter coragem para se permitir viver. É preciso ter coragem para sentir o que a vida tem a oferecer. Mas

Não sou tanto do agora

Talvez isso seja um defeito. Talvez uma atrapalhação. Talvez seja quase uma quarta dimensão. O fato é que não sou tanto do agora. Uma parte de mim vive muito no passado: como foi, como teria sido, como poderia ter mudado, o que foi bom e poderia ser repetido, o que nunca deveria ter acontecido, o que eu fiz que deu certo, o que fiz que deu errado. Penso muito nos sorrisos já dados, nos abraços já recebidos e nas lágrimas que há tanto tempo já escorreram até secar. Outra parte de mim vive no futuro: como será, o que vai ter dado certo, quais escolhas serão melhores, será que vou me arrepender, será que vai ser bom, e se eu falar assim, e se não fizer isso, e a saudade que vou sentir? Consigo sofrer por coisas que nunca vão acontecer. Essa angústia entre passado e futuro, que não para muito no agora, tem me consumido aos poucos. Não sou boa em fazer grandes escolhas, e sempre fico pensando que escolher um dos caminhos é abrir mão das possibilidades infinitas que os out

Lisboa, obrigada pela lição

Precisei abrir o computador antigo hoje. Sem perceber, me deparei olhando a pasta de fotos que criei em setembro de 2017. Eu tinha pouco tempo em Portugal. Tinha conhecido poucos lugares, poucas pessoas. Eu via beleza em tudo. Algumas fotos não têm um alvo específico ou um motivo especial. Às vezes, eu simplesmente achava um prédio bonito - e eram tantos deles! - que parava onde estivesse e tirava a foto. Mais tarde, mandava todas. Era a minha forma de compartilhar a beleza com as pessoas que eu amava. Estou sorrindo em todas as fotos que apareço. Mas na maioria, eu nem apareço. Não queria tanto me registrar. Queria guardar o que via, os olhares, o que sentia naqueles dias. Foi uma sensação de liberdade que eu nunca tinha experimentado. Eu não tinha muitos planos: andava por onde o coração parecia querer me levar. Entrava nos becos, sem medo, olhava as casas, tentava absorver suas cores. Meus olhos brilhavam. Eu me permitia experimentar as coisas, de uma forma que não conhecia

Amor-passarinho

O amor precisa ser livre. Se não for, simplesmente não será amor. O amor precisa ser livre como passarinho. Precisa poder voar. Precisa ter a liberdade de construir outro ninho. O amor precisa ficar porque quer estar. Não adianta muito ficar apenas porque as asas cortadas já não conseguem voar.  O amor precisa ser livre - no início, no meio e no final - para que continue sendo amor, não posse. Precisa ser livre para poder se transformar, sem se prender em amarras. Só o amor livre consegue se transmutar em outras formas de gostar. O amor precisa ser livre, ainda que seja para voarmos para longe dele. É preciso perceber a hora de pousar, mas também a de ir embora. O amor livre é aquele que se alegra com os grandes voos do outro, mesmo que os ventos levem para outros caminhos. Gosto da metáfora do amor-passarinho: dos voos, dos ninhos, da beleza de poder ir, da sinceridade do querer ficar, da independência de conseguir planar sozinho.  Meu amor-passarinho vive d

Papo de elevador

Mais um dia cheio. Mais um dia que voltava para casa com dor de cabeça. Mais um dia que não sobrava espaço na agenda. Mais um dia que ia embora depois da luz da sol. Ao mesmo tempo, mais um dia vazio. Quando chegasse em casa e a mãe perguntasse quais as novidades, pela milésima vez diria que nenhuma, estava tudo igual, tudo mais ou menos, nada fora do normal. Luciana chamou o elevador. Ainda estava no 11º andar, e ela pensou em não esperar. Eram só quatro andares, afinal. Mas estava tão carregada de coisas, a bolsa, a marmita, o casaco, os livros, o notebbok, que preferiu não descer as escadas. Esperou mais um pouquinho, abriu o elevador e entrou. Estava vazio, graças a Deus. Uma conversa de elevador era o que ela menos queria naquele momento. Não saberia o que responder se alguém comentasse pela milionésima vez que o tempo estava doido. Para o desgosto de Luciana, o elevador parou no segundo andar. Quem chamava o elevador para descer apenas dois andares? Ela suspirou. Podi

Você não me ensinou a te esquecer

Eu me acostumei a ter você perto de mim, em todos os sentidos. Ouvia sua voz, admirava seus olhos, acariciava seu cabelo, dormia quentinha e protegida nos seus braços. Tudo parecia lua de mel e conto de fadas. Dava certo demais. Até que o nosso prazo chegou, e eu precisei ir embora. Mãos dadas, abraço apertado, chororô e soluços de despedida. A gente não tinha muita opção. Eu fui. Então eu tive que me reacostumar a toda uma vida antiga. Com menos independência e liberdade, com menos tempo, mais tarefas e responsabilidade. E sem você, pelo menos fisicamente. A nossa ideia era terminar, mas não conseguimos. Algo ainda nos conectava de uma forma que eu nem tentaria explicar. E continuamos a compartilhar a vida. Assim, distantes, mas ainda tão presentes. Eu me acostumei à nova versão de você: das mensagens do bom dia ao boa noite, das ligações por vídeo, da saudade diária. Eu fiz de tudo pra conseguir lidar com a saudade: trabalhei duro pra pagar passagens, mandei presentes pra al

Quem é que tem coragem pra falar de amor?

Nessa rotina corrida, nessas cidades caóticas, nesses dias de cão, nessas relações líquidas, quem tem coragem pra falar de amor? A gente não quer se expor. Mesmo que se exponha o tempo todo na internet. Mesmo que poste milhões de fotos nas redes sociais. Mesmo que conte da vida pro vizinho da cadeira do avião. A gente não quer se expor pra falar de amor. A gente não quer se abrir. Mesmo que abra a boca pra falar besteira. Mesmo que abra a casa para visitas estranhas. Mesmo que abra a vida para desconhecidos. A gente tem medo de abrir o coração. Nesse mundo de julgamentos, a gente não quer colocar os nossos sentimentos na balança do outro. A gente não quer se arriscar a deixar saberem que a gente sente. Como se a gente não sentisse. Como se não fosse humano. A gente não quer se arriscar. Vive com medo de receber um não ou de ser mal compreendido. Tanto medo que preferimos não arriscar um sim. A gente aprendeu a não criar – ou não deixar que criem – expectativas, e nisso ini