Talvez isso seja um defeito. Talvez uma atrapalhação. Talvez seja quase uma quarta dimensão.
O fato é que não sou tanto do agora. Uma parte de mim vive muito no passado: como foi, como teria sido, como poderia ter mudado, o que foi bom e poderia ser repetido, o que nunca deveria ter acontecido, o que eu fiz que deu certo, o que fiz que deu errado. Penso muito nos sorrisos já dados, nos abraços já recebidos e nas lágrimas que há tanto tempo já escorreram até secar.
Outra parte de mim vive no futuro: como será, o que vai ter dado certo, quais escolhas serão melhores, será que vou me arrepender, será que vai ser bom, e se eu falar assim, e se não fizer isso, e a saudade que vou sentir? Consigo sofrer por coisas que nunca vão acontecer.
Essa angústia entre passado e futuro, que não para muito no agora, tem me consumido aos poucos. Não sou boa em fazer grandes escolhas, e sempre fico pensando que escolher um dos caminhos é abrir mão das possibilidades infinitas que os outros podem trazer. E aí tenho medo do "e se?": será que vou olhar para trás e me frustrar com as decisões que essa menina confusa foi obrigada a tomar? E digo obrigada porque a gente sempre precisa seguir em frente. E, se não andar, a vida anda sozinha, como uma esteira rolante, e no mesmo lugar com certeza não vamos ficar. Então, chego à conclusão que até ficar parada é uma escolha, e que não escolher, de certa forma, é escolher abrir mão de todas as outras possibilidades que não decidi agarrar.
Enquanto não paro no agora e continuo refletindo, relembrando e esperando ansiosamente pelo momento em que passado e futuro se encontram em paz, a vida vai escorrendo. Os dias vão passando, os semestres vão acabando. E eu, novamente, me aproximo de um grande momento de decisão. O que fazer, então? Continuo sem saber.
Mas por que tanto medo em tentar? Minha irmã me enviou uma frase hoje, e achei tão válida que preciso compartilhar: "nada vai estragar mais seus 20 anos do que pensar que você já deveria ter a vida resolvida". Eu não tenho. Assim como não tinha cinco anos atrás, quando precisei escolher um curso. E pedi ajuda, refleti e no fim escolhi, gostei do primeiro que tentei e está tudo bem. A minha irmã também não escolheu tão fácil assim. Foi caloura quatro vezes, mudou de faculdade, trocou exatas por linguagem e está apaixonada pela sua última escolha. Que problema tem? Por que uma menina de 20 anos precisa ter tudo certo e claro na mente? Mas por que eu, quando olho para mim, com meus poucos 22, não consigo ter a mesma benevolência e entender que está tudo bem se eu tentar, não gostar do primeiro caminho e mudar para outro?
A gente tende a ser mais duro consigo mesmo. Mas se é para pensar tanto em presente e passado, será que a minha eu de 17 anos imaginaria o tanto que, até aqui, eu já teria vivido? Será que ela imaginaria as experiências incríveis que já guardaria comigo? E será que a minha eu de 27 anos talvez não tenha mais compaixão dos erros que, até lá, eu talvez tenha cometido? Será que ela vai achar que no futuro as coisas fazem mais sentido?
Ainda não sou tanto do agora. Continuo presa a essa espiral maluca de passado e futuro. Continuo com medo de grandes decisões. Continuo elucubrando milhões de "e se" diferentes, num diagrama que nunca tem fim. Mesmo assim, tenho tentado cuidar melhor de mim. Talvez tudo isso seja uma característica tão minha que não consiga largar. Mas, se as minhas dezenas de avaliações não me levarem ao "caminho certo", espero me perdoar. Espero gostar do destino final que esse caminho vai levar. Espero aproveitar a viagem. Afinal, apesar de querer, a vida não veio com manual de instruções, e cada passo dado foi uma tentativa esperançosa de construir uma história feliz.
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