Helena era daquelas meninas doces: gostava de jujubas coloridas, filmes melosos e textos românticos. Acreditava que a vida podia ser linda, e gostava quando conseguia combinar seus vestidos esvoaçantes com o azul do céu aberto. Ela tinha um pouco a cabeça nas nuvens: sempre achava que as coisas podiam ser melhores, que as experiencias podiam ser mais bem vividas, que as pessoas tinham as melhores das intenções. Helena sempre acreditava na bondade dos corações.
Era uma dessas meninas que, quase sempre, andava com um sorriso no rosto. Se não cumprimentasse com um "bom dia" animado, algo estava errado. Ela gostava de falar gesticulando: contava histórias com a emoção de quem tinha vivido, e com detalhes que poderiam formar um livro. Cada cena tinha um contexto, uma emoção, a descrição de uma expressão. Quem ouvisse poderia até sentir a sensação.
Helena gostava de conversar: se conectar, ouvir, falar. Achava que algumas das melhores experiências vinham das conversas. Tinha uma caixinha mental com os diálogos mais interessantes, as histórias mais inacreditáveis, as reflexões mais geniais, as reviravoltas mais surpreendentes. Era daquilo que ela parecia se alimentar: seus olhos chegavam a brilhar.
Ela acreditava muito no poder da comunicação. Achava que metade dos problemas do mundo poderiam ser resolvidos com diálogo, mente aberta e um aperto de mão. Sempre tentava, nos poucos conflitos em que se envolvia, ouvir a voz da razão. E depois, claro, Helena falava: sobre o que pensava, o que queria, o que gostava, o que não aceitava. Às vezes ela realmente se iludia de que aquilo resolveria.
Mas qual era o problema? No fim das contas, Helena estava quase sozinha ao acreditar. As pessoas, diferentes dela, não adoravam falar: elas falavam para alcançar objetivos, não por simplesmente gostar. As pessoas se agoniavam ao conversar: tudo parecia demais, tudo parecia exagerado. Elas se importavam mais com o que parecia, em vez de perguntar. E logo Helena, que falava tão abertamente sobre o que pensava e sentia, vivia sendo mal compreendida. É que todo mundo supunha, com a régua de quem não fala o que devia, que Helena também estava no jogo de esconder o que queria.
E assim ela seguia: às vezes mal interpretada, às vezes vista como exagerada, às vezes como desnecessária - algumas conversas não eram das mais agradáveis, mas ela ainda acreditava que eram melhores do que silenciar. Mas por que ela continuava? Porque Helena acreditava, do fundo do coração, que algum dia as pessoas perceberiam o poder de se comunicar. E que, enquanto esse dia não chegava, pelo menos existiam pessoas com as quais valia à pena se conectar.
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