"Ei, fica calma, Gabi". Eu tenho vontade de dizer que não me mandem ficar calma, que eu estou tentando, mas que é incrivelmente difícil, que minhas mãos não param de suar e que meu coração está acelerado, mas que eu não tenho como controlar nada disso. Não digo nada disso porque elas são minhas amigas, só querem o meu bem e estão falando essas coisas para ver se eu melhoro. Estamos as três no banheiro do primeiro andar da Faculdade de Administração, porque foi o primeiro prédio que eu vi quando abri a mensagem, no meu caminho para a segunda aula.
"Vai passar", Nanda fala baixinho, tirando uma mecha de cabelo que insiste em cair sobre meus olhos. Droga, eu sei que vai passar. Eu sei que daqui a alguns meses estarei completamente leve, que nem lembrarei como é sentir toda essa tristeza, que talvez até já conheça um outro alguém. Mas agora eu não consigo imaginar como é que em tão pouco tempo toda essa dor já terá passado, não sei como meu coração dilacerado vai conseguir se recompor.
"Ele é um idiota, não dê esse valor", Duda resmunga. Acho que ela nunca foi muito com a cara dele. Na verdade, ela até ia, mas desde que comecei a lhe pedir conselhos sobre como responder depois de ele ter sumido por várias horas, ou perguntar se ela achava que eu devia perguntar se havia algo errado ou não, ela meio que perdeu o encanto. Sim, digo que ela perdeu o encanto, porque gosto de contar minhas histórias com detalhes e muita emoção, e minhas amigas meio que acabam embarcando junto comigo nas minhas aventuras. A diferença é que elas, mais sãs e menos envolvidas, percebem qual a hora certa de pular fora, enquanto eu insisto em continuar em um barco que só faz afundar. E aí eu me machuco, e elas seguram na garganta o "eu avisei" que teriam todo o direito de dizer.
"Ele não é idiota, só não deu certo...", eu defendo. Não sei de onde tiro energias para dizer isso, mas a verdade é que ele realmente não é idiota, nem nenhuma das coisas que a maioria das ex-alguma coisa dizem sobre seus antigos romances. Ele não tem culpa de nada, ninguém tem. Não é como se ele tivesse me prometido o mundo e me largasse grávida. Tudo bem, acho que exagerei um pouco, porque esse cara seria muito mais que apenas idiota. Mas bem, não é como se a gente estivesse namorando há uns dois anos e do nada ele terminasse comigo e na semana seguinte aparecesse com outra. Não é nada disso. A gente tava se divertindo, eu me deixei envolver mais do que deveria, mas acabou. E agora estou chorando feito uma idiota - sim, para mim vale chamar de idiota - no banheiro da faculdade. Pelo menos não tenho aulas nesse prédio, porque aí o risco de me bater com algum conhecido é menor.
"Está bem, ele não é idiota", Nanda diz. "E então, não pode fazer a minha amiga sofrer". Eu esboço um sorriso. "Você tem todo o direito de ficar triste, de chorar, mas a sua vida não acabou". Eu sorrio de verdade, mesmo que as lágrimas ainda encham meus olhos e teimem em borrar meu rímel. Sei que minha vida não acabou, mas, ao invés de simplesmente dizer isso, permaneço calada e ouço o que elas têm a me dizer. "Você sabe que a gente tá aqui para quando quiser sair de novo, conhecer uns carinhas... E para quando só quiser ficar em casa assistindo a um filme e comendo brigadeiro. E se só quiser chorar também", Duda fala, me arrancando mais um sorriso. Ela está segurando algumas folhas de papel toalha na mão, e estende para mim.
"Limpa esse rosto, vai ficar tudo bem", Nanda sorri. Eu ainda estou triste, eu ainda sinto que vou morrer de saudades das nossas conversas, ainda tenho vontade de te mandar uma mensagem e desfazer tudo isso, voltar ao normal. Só que não existe normal, não existe "a gente". E daqui a uns dias vou internalizar isso, e depois isso vai ser o normal, e depois vou esquecer. "Tá tudo bem, vamos lá", sou eu quem digo.
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