"Então, ele faz comunicação, a gente pega uma matéria juntos, e ele tava naquele barzinho que a gente foi na sexta... Depois que você já tinha saído, foi cumprimentar os meninos, sentou lá na mesa e ficou conversando. E aí ele pegou meu número, e agora me chamou para sair". Espero que ela continue, porque ainda não vi qual o grande problema da história. Íris e eu somos amigas desde a sétima série, e nos aproximamos ainda mais quando viemos juntas para a faculdade. Basicamente, ela sabe tudo da minha vida, como se estivesse presente em todos os momentos mesmo. Acho que eu também sei tudo da dela, porque, se aquele cara gatinho olha para ela, imediatamente ela faz o nosso sinal de comunicação interna e pronto, estou a par dos acontecimentos.
Incrivelmente, esse é um dos raros momentos em que não sei exatamente o que está acontecendo, porque meu celular quebrou na véspera do dia em que saímos, eu passei o fim de semana na casa de praia do meu pai - sinal de internet? como assim? - e, quando voltei, tive de me concentrar bastante no projeto de pesquisa que estava atrasado. Isso tudo se juntou, e agora estou uma semana atrasada na novela que é A vida de Íris. É claro que ela não poderia aguentar, então, assim que entreguei meu projeto de pesquisa, ela me puxou pelo braço até a cantina, me fez sentar na mesa mais afastada do burburinho e começou sua história. Estamos no ponto em que ele - Rodrigo, o cara alto, forte, cabelo castanho escuro e olhos cor de mel que pega uma matéria de comunicação com ela - a chamou para sair, e ainda não entendo por que ela disse que está com um grande problema.
"O fato é que ele é um cara tão legal... E você não sabe, a tia dele é amiga da mãe de Alana, e ela faz uma super-propaganda, que ele é bom moço e tal... E aquele sorriso? Meu Deus, é um charme. Aí um menino desses me chama para sair. O que eu faço?", ela pergunta, e aquilo parece tão claro que minha resposta sai com um tom de óbvio. "Você sai, ué", eu digo. Ela está meio chocada. "Mas amiga, você sabe como fiquei depois de Pedro. Eu não estou preparada...". Sim, ela disse isso. Estou boquiaberta. "Íris, não é como se o cara estivesse te pedindo em casamento. Ele te chamou para sair, você está claramente morta de vontade, então, vocês saem, se divertem. Faça o que você está com vontade, é simples assim". Agora quem está boquiaberta é ela. "Mas... e depois?", ela pergunta.
Não sei o que está acontecendo. Ela não é conservadora, não é das mais românticas, e definitivamente nunca foi assim. Talvez tenha sido o término com Pedro, mas na época ela não parecia tão traumatizada e, qual é, já faz dois meses. "Depois vocês veem no que dá, e até se dá em alguma coisa. Não é como se estivesse assinando um contrato de promessa de permanência", eu respondo. "Tá, e se não der? Vai ser só isso?", Íris pergunta. Definitivamente, Pedro mexeu com os miolos dela. "É, vai ser isso. Uma noite legal, que você vai sair com um cara legal, se divertir... Não precisa de mais coisa, né?". Mas parece que isso não é suficiente, porque Íris vê algo muito incompleto em ter boas memórias de uma noite só.
"Sabe, às vezes você só precisa de uma noite para ter boas memórias. Ou para ver que aquilo não vai valer à pena. Às vezes uma noite é muito pouco, então vocês passam meses, anos juntos. Mas, com certeza, não há nada de errado com memórias que só precisam de uma noite para serem inesquecíveis. Você tem todo o direito de se divertir, e de não estar preparada para começar algo de novo mesmo que ele queira. É o seu momento, é a sua escolha. Só seja justa, diga a verdade, não dê falsas esperanças, e aproveite. Aproveite tudo que puder como se cada noite fosse a última". Íris sorri. "Vou dizer que sim, então. Você me ajuda a escolher a roupa?", ela pergunta, com a mesma expressão da menininha da sétima série. "É claro que sim", digo, sorrindo também.
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