Eu sou indecisão. Sinto muito se não foi assim que você planejou, mas eu simplesmente não planejei. Tudo bem, até que planejei, mas aí achei que o primeiro plano estava ruim, parti para o segundo, e devo ter chegado até o Plano Z, mas, bem, não deu muito certo. Então digamos que não foi planejado e pronto.
Eu tive que pedir opinião a
trocentas amigas para me ajudarem a escolher entre o meu vestido preto,
soltinho e costas nuas, ou aquele branco tubinho, quando você me convidou para
o primeiro jantar com a sua família. E lembra o que eu acabei usando? Isso
mesmo, aquela minha saia longa azul com uma blusa bege.
Eu não sabia se aceitava o
sorvete de chocolate ou o picolé de amendoim naquele nosso primeiro encontro, e
acabei tomando os dois. Eu não sabia se devia te dar a mão ou segurar o
catavento que você comprou para mim, e então você mesmo puxou minha mão, com
catavento, com suor frio de ansiedade e com uma gota do picolé que estava
escorrendo porque eu não tinha terminado o sorvete. Eu não sabia se escolhia
medicina ou engenharia, e acabei me encontrando em Publicidade. Não sabia se
pedia macarrão ou sushi, e você escolheu churrasco. Eu não sabia a que filme
assistir, você me puxou para a praia.
Eu continuei assim, demorando
para decidir. E você, no auge dos seus vinte e poucos anos, não tinha muito
tempo a perder. Você sabia o que queria, sempre soube. E você, mais do que
todos que eu conhecia, corria atrás. Foi assim quando você quis o seu primeiro
carro, quando quis morar sozinho, quando quis aquela bolsa para estudar na
Europa, quando quis a mim.
Só que essa minha falta de
decisão não era mais peculiaridade, era sem gracice. Era ficar parada enquanto a
vida andava, esperando que as escolhas caíssem do céu. E então não seriam
escolhas, eu sei. Mas você me enxergava de forma diferente da que eu mesma via.
Porque, para mim, minha indecisão era a liberdade de tomar novos rumos, era o
não compromisso com coisas que não tinham a obrigação de serem tão sérias.
E então você percebeu isso e,
nossa, que absurdo. Como pode alguém ser tão lenta para escolher entre o rosa e
o roxo? Como você consegue demorar tanto para pedir a sobremesa? Como é
possível ter tanta dúvida apenas sobre a fruta que vai colocar na roska? Como
gastar tanto tempo observando as capas dos livros para escolher um, e sair com
a sacola cheia da livraria porque era incapaz? Que absurdo eu ser assim, não?
Não, querido, dessa vez eu
não pude concordar com você. Porque, se por muito tempo você foi um guia para
as minhas difíceis decisões, agora era um guia do que não fazer. Se por muito
tempo eu não sabia o que queria, agora pelo menos eu sabia o que não queria. E
isso era - a partir do momento em que me reconheci assim - continuar com você.
Sinto muito, mas eu era a própria personificação da indecisão. E se para você,
tão certo e exato no que queria, era demais estar ao lado de alguém que evitava
as certezas, nosso relacionamento era a maior dúvida de todas.
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