Malu e Danilo se conheceram em um bar. Ela era irmã da amiga da ex-namorada de um colega dele, mas isso só seria descoberto ao fim da noite, quando os dois já estivessem deitados nas próprias camas, os olhos quase fechados de sono, mas ainda atentos às informações que liam nos celulares, vasculhando tudo que o Facebook pudesse dizer sobre o outro.
No dia seguinte, a imagem de Malu apareceu por diversas vezes na cabeça de Danilo e, por mais que ele não admitisse, em todas as vezes, sorriu. Malu não colocou no grupo de todas suas amigas, mas não podia deixar de contar, animadíssima, pelo menos para Loli, sobre o menino interessante que havia conhecido na véspera. Não, não era muito lindo, nem muito alto, nem muito forte, sei lá, mas tinha algo de interessante.
Danilo esperou até a quarta-feira para mandar uma mensagem para Malu, que propositalmente esperou, depois de seus pulinhos de alegria, alguns bons minutos para responder. E, obviamente, mandou uma mensagem para Loli no mesmo minuto, contando sobre cada vírgula do que ele havia dito.
Eles continuaram conversando e, por mais que até a mãe de Danilo percebesse que algo estava diferente com o filho, ele insistia em dizer que tudo estava "normal, igual, por que a pergunta?". Ele insistiu em manter as conversas com Malu apenas consigo, e os amigos só foram saber que ele ainda mantinha contato com aquela menina do bar umas duas ou três semanas depois, quando ele, relutante e eufórico ao mesmo tempo, decidiu chamá-la para ir ao cinema.
E aquele filme se multiplicou em muitos outros, rendeu praia, rendeu restaurante, rendeu aniversários de amigos, rendeu fotos dos três meses juntos. Malu falava dele para as amigas com um sorriso que ia de orelha a orelha, Danilo respondia as mensagens dela com os olhos brilhando. Eles compartilhavam os gostos sobre comida, música, literatura e esportes. Os dois estavam mais felizes do que nunca, mas não, não se diriam apaixonados.
Porque, por mais que o coração saltasse só de pensar que o encontraria horas depois, Malu não podia dizer que estava apaixonada até que ele, finalmente, a pedisse em namoro. Oficialmente, é claro. Com direito à mudança no status do Facebook. E uma foto com legenda bem romântica para postar no Instagram, óbvio. É claro que ela estava doidinha por ele, é claro que estava amando passar aquele tempo junto com ele, é claro que adorava o jeito dele, era tudo tão claro... Mas, por que, pelo amor de Deus, ele não fazia logo o bendito pedido?
E Danilo, por sua vez, tinha que arranjar explicações para não chegar naquela menina que não parava de piscar para ele na festa. Tinha que inventar desculpas para não ir ao baba na sexta de tarde, porque, não, óbvio que ele não podia dizer que estava faltando um de tantos jogos porque queria sair mais uma vez com a mesma menina. E sim, ele amava o jeito que ela mexia no cabelo e olhava para ele com um olhar de baixo para cima. Ele era louco pela forma que ela andava levemente, como se estivesse desfilando nas nuvens. E, principalmente, ele ficava encantado com o rosto corado dela quando se envergonhava.
Mas aí chegou o fatídico dia. Não, ninguém morreu. Nem houve acidente nenhum, nem um pegou o outro com uma terceira pessoa, até porque eles simplesmente não tinham vontade de ficar com outras pessoas. O fato grave foi, na verdade, o convite que Malu fez para que Danilo jantasse em sua casa. E conhecesse seus pais. O problema? Ele não queria namorar. E ela não podia apresentá-lo apenas como "ficante". E o dilema se resolveu com o jeito mais simples e mais doloroso: os dois terminaram, porque "queriam coisas diferentes", porque um queria um relacionamento sério e o outro achava que aquilo estava ficando sério demais.
Coitados. Privaram-se da companhia e da paixão - sim, paixão, porque a escritora se permite mencionar o nome do que a filosofia das baixas expectativas sempre temeu - que tinham um pelo outro apenas porque não pararam para perceber que, entre o que viviam e o "namorar", só havia o "praticamente". Malu não deixava de ser a garota da vida de Danilo por não ter o título de namorada, e não perdia muito por isso. Danilo não deixava de, sem oficializar, namorar Malu; e se oficializasse, também não mudaria tanto. A falta de compreensão do praticamente foi o que os fez perder: o tempo, a chance, a paixão, a razão.
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