Já fui passado, ainda não sou presente, mas quem sabe se não serei futuro? Já fui loira, morena, e agora me encontro num tom intermediário e - como quase tudo - indefinido. Já fui a fofa, a educada, a carinhosa, mas também já briguei, já bati boca, já não fiz aquele dever. Passei do karatê para o ballet, da natação para a ginástica. A mesma menina que amava desfilar era aquela que tinha vergonha de dizer "oi". E então surgiu o teatro, a bruxa Úrsula, a Wendy, a Cinderela, a Maribel. E cada uma daquelas personagens deixou um pouco de si no casulo que se formava. Surgiram os incontáveis e maravilhosos livros, surgiram os amores, surgiram as paixões cinematográficas.
E, junto com os suspiros que se dirigiam ao pôster colado no teto antes de dormir, surgiram as primeiras asas. Asas ainda inexperientes, pequenas, meio tortas. Nada que o tempo não fosse capaz de consertar, nada que as experiências não fossem mudar. Elas foram se colorindo, ganhando brilho, força e velocidade. E a borboleta tomou coragem, abriu suas asas e, finalmente, voou. Ela ganhou o mundo, conheceu novos lugares e pessoas. Mas nada nunca seria suficiente, porque o que ela gostava mesmo era de mudar. Aquela borboleta não estava satisfeita, queria continuar a transformação. Sempre. Aquilo lhe provocava medo, mas lhe trazia amor. Amor pelas emoções e surpresas da vida, amor pelos acasos e coincidências, amor pela falta de frequência. Era o milagre da divina metamorfose.
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