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Acordei alegrinha

   "Nossa, tive mais um daqueles meus sonhos loucos", falo, deliciando-me com a minha barrinha de chocolate matinal. As meninas viram a cabeça repentinamente, todas já cientes de que algo no mínimo surpreendente está por vir. E eu conto sobre quem apareceu no meu sonho (não, ele nunca tinha aparecido antes, juro; e não, eu nem achava ele essa coca-cola toda até conhecê-lo melhor; mas sim, ele é incrível) e sobre como ele me chamou para dançar numa festa em que as pessoas nem dançavam, e sobre como ficamos dançando juntinhos e bem lentamente uma música que do nada mudou para romântica, sobre como recebi flores e um cartão preto com letras douradas. Não deixo de contar que, como não podia faltar uma trama digna de novela no tal sonho, eu sabia que o cartão não era dele, e que ele estava se apropriando de uma outra história minha, mas quer saber? Eu me sentia tão bem...
   E naquele dia acordei alegrinha, ainda sem nem me lembrar direito do sonho. Ele foi voltando à minha cabeça aos poucos, e eu comecei a sorrir, assim do nada. Sorri na mesa do café da manhã, sorri na sala de aula, sorri na volta para casa. Sorri à toa para os desconhecidos, para os amigos e, é claro, para o celular. Contei para quase todas as minhas amigas sobre como foi bom ficar ali, alguns instantes quase parada, numa realidade paralela, e de como foi bom sentir aquilo de novo, porque, nossa, quanto tempo! Elas todas concordaram. Não tinha como nunca terem sentido aquele sentimento, até meio infantil, de quando se sabe que vai acontecer alguma coisa, que a outra pessoa quer, mas a bendita coisa ainda não aconteceu. Era o sentimento que regia os relacionamentos da época em que dizer "estou gostando de fulano" era uma declaração de amor que fazia as meninas corarem e as amigas gritarem. Que saudade daquela época, resta-me dizer.
   Restaria, se pequenas coisas não fossem mais capazes de me fazer rir à toa. Se uma simples conversa leve não me arrancasse sorrisos em momentos aleatórios, se o céu azul não me desse vontade de estar na praia pegando umas ondinhas, se uma grande extensão de piso livre não me desse vontade de dar estrelinhas. Só me restaria saudade, se olhar para todos os meus livros não me proporcionasse viagens no tempo, se ver minhas fotos antigas não roubasse, daquele sorriso banguela, umas boas gargalhadas. Restaria apenas saudade, mas sabe como é, me restam muitos sonhos. E, por causa deles, acordei alegrinha mais uma vez.

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