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Metalinguagem por felicidade

   
   Andava a pensar, pensar e pensar. Refletia sobre a vida, as lembranças, os laços. Sentia tudo aquilo - a vibração da cidade, o burburinho das expectativas, os murmúrios das conversas sorrateiras - eletrizar sua pele, arrepiar seus poros, correr por seu sangue e movimentar seus dedos. Sentia a necessidade da caneta, a precisão do caderno, o ritmo da ponta a tocar o papel e soltá-lo para passar a escrever outra palavra. Tudo aquilo borbulhava em suas veias, e sua cabeça girava feito louca, na busca de um bom assunto, um sentimento profundo e dramático. Estava tudo na ponta da língua, a técnica - muito mais sentimental que gramatical - continuava lá, mas lhe faltava o principal: o sofrimento. Simplesmente não havia porque sofrer. Ela esbanjava seu sorriso por aí, prova viva e invariável de que sua capacidade de escrita andava, no mínimo, ociosa. Mas, se não havia porque sofrer, não haveria, infelizmente, sobre o que escrever. Não com veracidade, profundidade e emoção. Não haveria a dor que toca os corações, não haveria a lágrima que sela a aprovação - e o sentimentalismo - dos leitores. Mas que fosse assim. Que o assunto não saísse, que os textos continuassem bobos, se ela ainda pudesse, ao menos, continuar a exibir aquele sorriso bobo no rosto.

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