Acho que você andou ouvindo um pouco sobre as minhas qualidades. Acho que talvez tenha se iludido com os elogios, talvez tenha exagerado na construção da minha imagem. Vamos ao choque de realidade, então.
Eu falo demais. E sim, isso pode até parecer encantador agora, quando você me vê gesticular, sorrir e arregalar os olhos cheios de brilho. Mas daqui a um tempo, quando você estiver do meu lado me ouvindo contar para um estranho a mesma história que você já ouviu centenas de vezes, vai virar os olhos e pensar em como é que aquilo um dia teve graça, ou como minha gesticulação excessiva é coisa de quem não sabe se controlar, ou como a minha voz é fanha e irritante.
Sim, você pode pensar que essa minha demora para perceber as coisas é fofa, mas te garanto que em pouco tempo será lerdeza, burrice, demência. Ou você pode achar que a minha simplicidade para ficar em casa é algo aconchegante, que te deixa à vontade. Não te dou muitos meses para dizer que sou descuidada e sem graça. Talvez você ache que o tempo que eu gasto me arrumando para sair é um ótimo investimento, mas isso logo mudará para vaidade exagerada, desperdício de tempo - e de dinheiro.
Por falar nisso, faço meu pedido final, ainda agora, no início. Vai embora antes que falemos de dinheiro. Vai embora antes que o prazo de validade da beleza vença. E não, eu não estou falando de rugas, mas encanto. Você ainda tem tempo de dar meia volta e desaparecer antes que as boas lembranças sumam por si só. Eu prefiro ser um bom passado a ser um presente castigante, e você sabe que, uma hora ou outra, isso há de acontecer. Então vai, que a escolha é sua. E o risco também.
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