Já ouvi isso de várias pessoas. Em vários momentos, em várias situações. Já falei uma dezena de vezes. E, muitas dessas vezes, me senti mais perdida do que a frase era capaz de explicar. Sim, eu estou num bom caminho. Parece que a maioria de nós está, não é mesmo?
Sim, parece que eu sou mesmo o modelo de menina certinha que costuma tirar boas notas, que tem um bom relacionamento familiar, que não tem grandes problemas de saúde, que é vista como fofinha e que sempre dá bom dia às pessoas. Eu não xingo e nem bebo refrigerante. Que tal completar a lista de aparências que faz tudo parecer perfeito? Eu tenho a sorte de comer e não engordar. Eu publiquei um livro aos dezessete anos. Eu passei em primeiro lugar para Direito, numa Universidade Federal. E, no meu ano e com a minha nota do ENEM, eu podia ter entrado em qualquer curso de qualquer universidade do país. Nossa! Deixa eu contar a verdade: eu nem tive oportunidade de comemorar essa aprovação. Coisas maiores e muito mais complicadas estavam acontecendo. E coisas maiores e mais complicadas acontecem o tempo todo, com todo mundo.
A gente não tem ideia do que está fazendo com a vida. Às vezes, quando o tempo corre e temos que correr ainda mais para conseguir alcançar, a gente pensa que sabe o que está fazendo, para onde está indo, o que quer. A gente se engana, ou por simples falta de tempo para parar e refletir, não percebe que está completamente perdido. A vida vai nos empurrando e, sem saber direito se queremos resistir, nos deixamos levar pelos caminhos loucos que, provavelmente, não foram nossas decisões. A vida continua nos levando, até que nos dá um empurrão que nos joga no chão. E ela mesma nos culpa por não termos feito nossas escolhas, por não sabermos o que queríamos, por termos feito o que não podíamos ou por não termos feito o que devíamos.
A gente não sabe o que está fazendo agora. A gente não sabe se é a coisa certa a se fazer, ou se isso nos faz feliz. A gente simplesmente veio parar nessa situação e continua porque não sabe como sair. A gente se vê meio louco e perdido e confuso, e não consegue pedir ajuda. Não sabe como explicar. Às vezes as coisas não dão certo, começam a desmoronar, uma a uma.
Eu já tive algumas certezas, e essas certezas me seguravam quando tudo parecia que ia cair. Mas às vezes nada parece certo, nada é garantido, e a vida nos mostra que não temos controle de absolutamente nada. Tudo é aparência. Tudo é momento. Tudo pode desaparecer a qualquer instante.
Eu não sou perfeita, eu não tenho uma vida perfeita. A única parte da minha vida que eu tinha como "garantida" parece que está desmoronando bem na minha frente. Em menos de uma semana, as coisas começaram a dar muito errado. Ou as coisas já estavam dando errado, e eu só percebi agora, pode ter acontecido. Mais uma prova de que não sou perfeita: eu costumo ser bem lenta para perceber coisas.
Eu entrei em crise. E eu chorei sozinha, e limpei as lágrimas, e me dei um dia de fossa. Fiz brigadeiro e assisti séries. Melhorou, mas eu continuava me sentindo triste e vazia. Passei o dia todo sozinha. Eu pensei que estava bem. Eu pensei que ia ficar bem. E aí eu decidi falar sobre isso. E chorei feito um bebê. E falei sobre as notas, sobre as angústias, sobre a solidão, sobre a falta de rumo. Falei sobre uma tristeza profunda que não costuma tomar conta de mim: foi a mistura de um medo muito grande de perder alguém especial, uma nota ruim que pode influenciar muito em alguns planos, e uma TPM que prometia um dragão mastigando meu útero no dia seguinte. Eu falei tudo aquilo e, junto com as palavras, coloquei lágrimas, soluços e sentimentos ruins para fora. E minha mãe me abraçou e me passou as melhores energias do mundo. E, como uma criancinha, essa noite eu dormi na cama dos meus pais.
Sim, a menina certinha pode parecer a maior boba por dividir um momento de fraqueza desses com pessoas que nem conhece. Mas é que eu acabei de assistir a 13 reasons why, e eu só queria poder ajudar alguém que também esteja passando por uma situação complicada. Pessoas que parecem ter vidas perfeitas não têm, realmente, vidas perfeitas. E, provavelmente, no fundo, você não se sente muito diferente delas. Procure ajuda, fale com alguém. Isso não vai resolver tudo, e eu continuo não fazendo ideia do que estou fazendo com a minha vida. Mas sei que, sempre que precisar, tenho alguém para me ajudar.
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