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Sobre gente que brilha


   Vinte anos. Apenas vinte anos. Um sorriso lindo, alto astral. E era fim de ano. Tudo prometia uma viagem sensacional. Estaria com pessoas que ela gostava, em um lugar lindo, numa época maravilhosa. Aquele espírito de renovação, pós-natal e esperançoso pelo ano que viria, enchia tudo de alegria. E até arrumar as malas - e decidir se levava o vestido azul ou o rosa, ou os dois, para ter mais opção - tinha um quê de satisfação.
   Foi nesse clima de alegria que tudo mudou. Mais rápido do que o estourar de uma garrafa de champagne quando os relógios alcançam a meia noite no dia 31. Mais rápido do que um piscar de olhos. Foi assim, se preparando para sair. Ela só ia colocar a mala no carro. E a vida mudou bastante. Uma outra moça, alcoolizada, bateu o carro no carro dela. E ela estava entre os dois. Vinte anos, modelo, todo um futuro pela frente. Fim de ano, época de festas, e ela estava no hospital. Com a perna amputada. Vinte anos. Modelo? Futuro?
   Quatro dias depois do acidente, ela já estava ativa nas redes sociais. Era uma mensagem positiva: ela estava viva. Aquilo não era apenas a perda de uma perna, era mais uma chance de viver. Quatro dias. Apenas quatro dias e ela era capaz de enxergar a vida de um ponto de vista tão melhor. 
   Dois meses depois do acidente, e ela já fazia ensaios fotográficos para revistas. A perna não era um problema: nada que um tecido rosa e combinante não resolvesse. Ela continuava toda florida, o sorriso aberto, os olhos brilhantes.
   Mais alguns meses, e ela estaria usando sua prótese. Andando, desfilando, dançando. Quantos de nós não deixamos de dançar por vergonha do que os outros possam achar? Ela perdeu a perna, mas não parou de dançar. Ela voltou a desfilar, com salto, com prótese, com desafio, mas, principalmente, com o sorriso.
   Ela, como é fácil ver, nunca foi de esconder: a prótese faz parte do seu corpo, assim como o acidente faz parte de sua história. Ela usa shorts curtos e vestidos longos com fendas que, do outro lado, poderiam até "disfarçar". Mas é que a vida é curta demais para se preocupar em não mostrar quem realmente se é.
   Ela escolheu se desafiar: mostrar na internet a sua vida e a sua história, encarar trabalhos, faculdade, viagens e esportes. E ela fez e faz tudo isso com a energia de alguém que não se cansa da vida. Alguém que transmite coisas boas. Alguém que tem alegria de viver e orgulho de ser quem é.
   Ela me inspira por tudo isso. Ela é um exemplo de superação, de novas perspectivas, mas, principalmente, de boa energia. E, se alguém brilha tanto assim por dentro, era questão de tempo espalhar o brilho por aí. Foi assim, um pouco antes do carnaval, que ela decidiu mudar um pouco o visual: se o glitter no rosto era pouco, por que não uma perna inteira brilhante?


Esse texto foi baseado em Paola Antonini, uma moça que hoje tem 22 anos e me inspira bastante. Paola perdeu parte da perna em um acidente em dezembro de 2014, mas tem uma postura surpreendente sobre o ocorrido - e sobre toda a transformação na sua vida. Você pode acompanhar o perfil do Instagram: @paola_antonini 

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