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Sobre nossas vidas secretas e oportunidades que deixamos passar


   Dezembro de 2013. Marquei de ir ao cinema com minhas melhores amigas desde os dois anos de idade, o que seria uma ocasião histórica: não reuníamos as quatro há muito tempo. Não lembro por qual motivo, mas uma delas se atrasou, e acabamos perdendo a sessão que planejávamos. Naquela hora, só havia um filme para vermos: A vida secreta de Walter Mitty. O título não dizia muito, ninguém tinha falado bem, a capa não dava ideia do que poderia ser. Assistimos. 
  Eu não demorei muito para gostar. O filme começa engraçadinho, vai crescendo, mudando, construindo novas personalidades e, simultaneamente, conquistando o público. Eu entrei sem esperar nada, saí encantada. Já indiquei esse filme para algumas pessoas, até que, hoje, três anos depois, mostrei a minha irmã. E, mais uma vez, eu amei. A minha intenção aqui não é fazer uma resenha - apesar de realmente indicar a cada um de vocês que assistam e reflitam, porque é mesmo muito bom - mas contar um pouco de tudo que, dessa vez, esse filme me fez pensar.
   Walter começa bem enquadrado, num emprego comum e numa vida sem muitas emoções. Para falar a verdade, ele não tem nem coisas suficientes para preencher um perfil do site de relacionamentos. Ele cuida da família, é responsável e, nos momentos em que para, sonha. Ele sonha com feitos incríveis, com cenas cinematográficas, com sentimentos que ele não vive. Ele sai da própria realidade e, em alguns segundos meio fora de órbita, fantasia. Quantas vezes fazemos isso? Não que sonhar não seja bom, mas deve haver algo que não está muito bem, para preferirmos um mundo irreal e fantasioso à nossa própria vida.
   As coisas começam a mudar quando uma das coisas mais importantes do seu trabalho é perdida, e ele precisa recuperá-la para não perder o emprego. É aí que ele fala com a moça que queria há tanto tempo, e que embarca numa viagem completamente inesperada em busca desse "algo misterioso". Ele não queria aquilo - ou talvez até quisesse e não soubesse -, mas foi jogado no meio da confusão e precisou se virar. Acabou sendo maravilhoso. Por quantas vezes não encaramos as situações até que seja impossível fugir delas? Quando é que, realmente, corremos atrás de mudanças e experiências transformadoras? Quando nos permitimos mudar?
   Outra coisa que fiquei refletindo foi justamente sobre a transformação: ao longo do filme e das aventuras, Walter cresce, e deixa mostrar muito mais do que a personalidade mais fechada e monocromática do início. Ele arrisca, ele retoma coisas que fazia quando jovem (antes das responsabilidades o capturarem), ele muda até o visual: deixa na cara que agora é mais despojado e menos padrão, um Ben Stiller bem diferente dos outros papeis que já vi. E, por falar nele, queria já deixar aqui uma das minhas gratas surpresas: ele não foi só o protagonista, mas também diretor e produtor do filme, e está de parabéns.
   Agora, queria só comentar sobre uma das cenas finais, com a participação de Sean Penn. Vou tentar não dar spoilers para não estragar a graça, mas precisamos pensar sobre o belo, um "gato fantasma" que não faz questão de ser visto; e sobre o óbvio (ou quase): por que não prestamos atenção nas coisas mais importantes, por que não enxergamos o que está bem a nossa frente?
  Além disso, eu achava que gostava do filme porque ele me lembrava alguém - que eu conhecia bem pouco nessa época, mas tive a sorte de reencontrar e conhecer melhor depois - e descobri que isso está certo, mas que eu estava equivocada sobre o "quem": Walter Mitty me lembra de mim mesma. De todas as minhas fantasias, de pensar demais, e também do quanto posso fazer, muito além disso. Lembra que eu preciso me dar oportunidades, explorar, viver.

Eu espero ter sido capaz de te fazer refletir, de contar o suficiente para você ter vontade de assistir, mas não o bastante para tirar a graça dessa história incrível. Você ainda pode ler uma resenha aqui e, se quiser assistir ao filme, encontra aqui (aumente o volume porque o áudio está baixo).

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