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Mostrando postagens de outubro, 2015

Ela não falava sobre amor

   Ela era daquelas pessoas que não gostava de textos melosos, de leite condensado ou de novela. Era tudo muito doce, ela dizia. Não vestia rosa, dizia que flores cheiravam à morte e tinha gastura de abraços. Ela não gostava de conversas longas, esmaltes vermelhos e jantares à luz de velas. E, por Deus, ela não entendia como seus pais podiam, por tantos anos, acordar todas as manhãs com o mesmo bom dia.    Ela saía à noite, não gostava muito dos olhares do dia. Calçava saltos mais altos que o seu ego, vestia vestidos tão curtos quanto à sua fé na humanidade. Ela gostava de beijos roubados, mas nunca de números trocados. Cada dia tinha um nome diferente: se na segunda era Sofia, na terça era Bia e na quarta Juliana. Ela não se importava com a conversa do dia seguinte, com a saída do fim de semana, com absolutamente nada. Só não queria ser encontrada.    Ela acreditava na diversão. Era ali e era agora, não "qualquer hora", não hora nenhuma depois. Ela defendia aquela

Um dia você vai lembrar de mim

   Um dia, não me pergunte quando nem por quê, você vai lembrar de mim. E acho que vai sorrir. Vai sim. Um dia talvez você esteja andando na rua, sentado no ônibus, assistindo a aula, sei lá. E aí eu também não sei o que vai acontecer. Talvez alguém tenha um sorriso parecido com o meu, use um perfume que eu costumava usar, talvez alguém fale com o meu jeito de falar. Ou talvez não seja ninguém. Talvez algo ao acaso te faça pensar. Se uma folha marrom cair sobre o seu casaco, e eu surgir na sua cabeça falando que amo o verão, mas que o outono é especial porque abriga meu aniversário, então talvez você lembre de maio e de como tudo começou. Ou de como não se começou nada, você escolhe. Talvez você veja uma caixa de chocolates suíços, e isso te faça lembrar da minha maior paixão de todas, e de como meus olhos brilham só de imaginar. Talvez, um dia você se machuque e lembre do quanto eu sou desastrada e apareço roxa sem nem perceber. E talvez você sorria ao lembrar das minhas expressõ

E se um dia eu perceber que não gosto mais de você?

   Comecei a gostar de poesia quando descobri que Mário Quintana me traduzia melhor do que eu mesma. Eu nem estava buscando me entender e, por acaso, aqueles quatro versos saltaram aos meus olhos. Assim, entre tantas outras informações jogadas na internet, Do amoroso esquecimento me fazia entender que há amores que se vão, mas não te deixam ir. "Eu agora, que desfecho! Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?"    E me vi tão refletida, que pensei que aquilo seria uma constante na minha vida. Eu me apaixono fácil. Por livros, por comidas, por filmes, por lugares. Não por pessoas. Simpatizar é fácil, gostar também. Fazer me apaixonar? Vai demorar um pouco, meu bem. Era um caminho difícil, longo, tortuoso. Mas quando se chegasse lá, não haveria mais volta. Descobri que sou do tipo que, para o amor - e não as brigas - dou um boi para não entrar, mas uma boiada para não sair.     Você apareceu de repente, mexeu comigo e eu me

Eu quero ser feliz sozinha

   Você disse "me deixa te fazer feliz", eu corri. Agora penso que você deve achar que eu sou louca, que fugi de você, que nunca gostei como disse que gostava. Não é nada disso, mas como posso te explicar? Se eu disser que não estou bem, você vai pensar que estou com saudades. Talvez eu esteja, mas o meu não estar bem não se resume à sua falta. Existem outros problemas, outros assuntos. A minha vida não é só você, desculpe.    Você chegou a me oferecer ajuda, e agradeço a sua boa vontade. Acontece que há coisas que preciso resolver sozinha. Superar mágoas, esquecer rancores, descobrir amores dentro de mim. Antes de aceitar toda a devoção que você me oferece, preciso reconstruir minha proteção, redescobrir minha visão e voltar a acreditar no meu coração. E nesse caminho, só dá para caminhar com os próprios pés.    Você ofereceu amor, e eu não pude aceitar. Espero, sinceramente, que possa aguardar. Se não puder, eu vou entender. É só que, antes de usar o carinho que vo

Ela não é o amor da sua vida

   Não. É claro que não. Amor da vida é uma coisa tão forte, tão melosa, tão para a vida toda... Ela com certeza não é o amor da sua vida. Ela é alguém legal, isso aí. Alguém bem legal, com quem você tem vontade de estar, que chama para sair, que gosta de conversar. Isso não é ser o amor da vida de ninguém, claro que não.    Mas é que ela é linda, sabe? Sei lá, não dá para explicar o que você sente quando a vê se aproximar. Quando ela mexe no cabelo daquele jeito que só ela, no mundo inteiro, mexe. Daquele jeito que deixa o cabelo mais bagunçado do que estava antes, parecendo que acabou de acordar, e que te faz ter vontade de vê-la acordar todos os dias. Não dá para explicar o que você pensa quando ela se vira devagar, e sorri daquele jeito fofo, envergonhado, o dente às vezes um pouco melado do batom escuro. E aquela sua súbita vontade de se aproximar ainda mais, só com a desculpa de que vai "limpar". Mas não. É óbvio que ela não é o amor da sua vida.    Todo mundo q

Aquele olhar

   Ela olhou para ele. A história começa assim. Nada a mais. Nada demais. Ele olhou para ela. Aí sim, teve cena de filme romântico, câmera lenta, cabelos voando ao vento. Tudo imaginação, coitado. Ele achou que ela estava dando aquele olhar. Ela só estava com fome. E sabe como é aquele olhar perdido, desfocado, que parece concentrado em algo, mas na verdade só se concentra no "ai meu Deus, como eu queria uma coxinha"? Pois então. Ele sorriu para ela. Ela continuou pensando na coxinha. A história poderia terminar aí, mas entenda, aquele cara nunca iria deixar assim.    Ele foi atrás da recepcionista, descobriu nome e sobrenome. Sacou da sua arma - o celular - e pesquisou profissão, amigos e histórico escolar. Descobriu signo, ascendente, religião. Livros, blogs, férias de verão. Ela, faminta, continuava a olhar. Ele, encantado, não conseguia deixar de encarar. Ele tomou coragem, levantou da cadeira, andou até o outro lado da sala. Como todos ali, só podia esperar. Água,

E se eu disser que quero estar com você?

   Calma. Respira fundo e ouve direito. Eu te chamei para sair, não te pedi em casamento. Quero estar com você, isso é óbvio. Você já sabe, eu não preciso repetir. Estou te convidando para um bom filme. Para um banho de mar. Para pedalar. Topa? E se eu sentir fome, que tal a gente parar ali e comer? E se eu te chamar para um jantar, vou ficar bem feliz se comparecer.    E se um dia você me olhar com esse sorriso irresistível, e me oferecer um pedaço do seu chocolate, talvez eu aceite. Ou talvez eu finja que não por educação, vire para o lado e roube o pedaço de você. E se eu disser que gosto de te ver, promete não correr? E a gente pode passar a tarde toda juntos, eu vou tentar cozinhar, você tenta me ajudar, vai ser legal, vai por mim.    E se um dia eu decidir te filmar, não põe a mão no rosto, não. Gosto do jeito que sorri quando está envergonhado. Da forma que a sua boca se encurva, seu rosto cora e você vira os olhos discretamente para os lados. E se eu disser que gostaria