Pular para o conteúdo principal

Deixa eu te contar

Quem me dera

Ser simples como um número

Feliz como uma soma

Decidida como uma subtração


Quem me dera

Ser tantas

Compartilhar na divisão

Me triplicar na multiplicação


Quem me dera

Que a vida tivesse respostas exatas

Que os problemas viessem com fórmulas

Que as teorias já fossem sólidas


Mas se até os números

Têm dízimas periódicas

E se até a calculadora

Às vezes desiste de calcular


Quem sou eu 

Pra querer simplificar?

Eu sempre fui mesmo

De preferir sonhar


E sonhos

Não são matemáticos

Nem exatos

Nem possivelmente contabilizados


Sonhos 

Se forem pra contar

Exigem outro tipo de conta

Eu chamo de rimar

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Amor-passarinho

O amor precisa ser livre. Se não for, simplesmente não será amor. O amor precisa ser livre como passarinho. Precisa poder voar. Precisa ter a liberdade de construir outro ninho. O amor precisa ficar porque quer estar. Não adianta muito ficar apenas porque as asas cortadas já não conseguem voar.  O amor precisa ser livre - no início, no meio e no final - para que continue sendo amor, não posse. Precisa ser livre para poder se transformar, sem se prender em amarras. Só o amor livre consegue se transmutar em outras formas de gostar. O amor precisa ser livre, ainda que seja para voarmos para longe dele. É preciso perceber a hora de pousar, mas também a de ir embora. O amor livre é aquele que se alegra com os grandes voos do outro, mesmo que os ventos levem para outros caminhos. Gosto da metáfora do amor-passarinho: dos voos, dos ninhos, da beleza de poder ir, da sinceridade do querer ficar, da independência de conseguir planar sozinho.  Meu amor-passarinho vive d

Ânsia

Sabe quando você escova os dentes E num descuido Acerta um ponto Desconhecido Você não sabe como Nem quando Aquele golpe te acertou E apenas reage Como se fosse colocar tudo pra fora Como se fosse a hora Como se fosse expulsar Algo sem nem saber o que será Sabe quando você sente Que precisa escrever Que precisa falar Ainda que não saiba o quê Você deseja gritar? Pode parecer diferente De quando escova o dente Mas essa urgência de expulsão Pode ser ânsia ou inspiração

Eu voltarei a escrever

Soube hoje pela manhã que ontem foi dia do escritor. E precisava escrever e, principalmente, precisava vir aqui falar isso, depois desse jejum antiestratégico de alguns meses. Eu não sou uma escritora profissional – não vivo disso e nunca tive qualquer lucro com a escrita – mas emocional. Eu escrevo quando algo me desperta emoções, quando eu quero despertar emoções. E eu parei de escrever porque as emoções que eu podia catalisar – no meio de tanta dor e desespero, no auge da segunda onda da pandemia – não eram boas. Não quero ser um roteador de angústias e sentimentos ruins. A vida tem sido esquisita há um bom tempo: isolada do mundo, das pessoas queridas, dos grandes e bons momentos. Nada acontece aqui dentro. Lá fora, o mundo parece querer acabar. Me divido entre o tédio de não ter o que contar e o medo de assistir, de longe, o que pode acontecer. Parei de escrever. Mas escrever também tem sido a minha válvula de escape há anos. Eu escrevo sobre despedidas, partidas, dores, amores,