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Imortal

Me conta o motivo das suas olheiras

Me mostra a foto que guarda na carteira

Me indica seu livro de cabeceira

Me revela a sua caixinha de lembranças

Me conta dos calos das suas andanças

Se abre sobre aquele trauma de infância

Me pede sigilo

Te ofereço segurança

Todos os seus segredos

Vão comigo pro túmulo

Suas mágoas e rancores

Seus casos e amores

Tá tudo guardado

Enterro a chave do cadeado

Eu quero saber

Pra entender você

Eu quero entender

Onde vou me meter

Eu quero me assegurar

De que também é seguro

Andar com você

Eu quero compreender

Aprender detalhes sobre você

Seu contexto

Sua cultura

Seus planos

Metas futuras

Me deixa observar

Esses tantos sinais

Que fazem das costas

Constelação

Me deixa admirar

O degradê dos seus olhos

Perfeição

Me deixa imortalizar

Cada pedacinho de história

Cada cantinho de sensação

Vou fazer uma colagem de memórias

Guardar pra recordação

Já sei que o amor não demora

Me deixa eternizar a paixão

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Amor-passarinho

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Ânsia

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Eu voltarei a escrever

Soube hoje pela manhã que ontem foi dia do escritor. E precisava escrever e, principalmente, precisava vir aqui falar isso, depois desse jejum antiestratégico de alguns meses. Eu não sou uma escritora profissional – não vivo disso e nunca tive qualquer lucro com a escrita – mas emocional. Eu escrevo quando algo me desperta emoções, quando eu quero despertar emoções. E eu parei de escrever porque as emoções que eu podia catalisar – no meio de tanta dor e desespero, no auge da segunda onda da pandemia – não eram boas. Não quero ser um roteador de angústias e sentimentos ruins. A vida tem sido esquisita há um bom tempo: isolada do mundo, das pessoas queridas, dos grandes e bons momentos. Nada acontece aqui dentro. Lá fora, o mundo parece querer acabar. Me divido entre o tédio de não ter o que contar e o medo de assistir, de longe, o que pode acontecer. Parei de escrever. Mas escrever também tem sido a minha válvula de escape há anos. Eu escrevo sobre despedidas, partidas, dores, amores,