Sair da casa dos pais por um tempo é perceber que uma casa não funciona tão bem quanto você pensava. As coisas não se resolvem sozinhas. Não sujar não significa não ter que limpar. Se não sair para fazer mercado, a comida não aparece na geladeira. Sair da casa dos pais também é se dar conta dos luxos que se tem. Do quanto sua vida é confortável e você nem sabe. Ter comida gostosa, quente e prontinha na hora do almoço é uma delícia. Colocar a roupa no cesto de roupa suja e encontrar ela levada, passada e dobrada parece até sobrenatural. Não precisar fazer mercado - ou, quando se dispuser a fazer, ir e voltar de carro - é uma mágica.
Sair da casa dos pais é ser jogado no mundo real, e ter que dar conta, porque não tem alguém para dar conta por você. Mas também é perceber que você é capaz de fazer isso. É lavar os pratos na hora que quiser. É não precisar dizer que horas vai, com quem vai, para onde vai. É não receber ligação perguntando que horas volta. É não precisar ficar pedindo carona. É fazer as coisas do seu jeito, no seu tempo. Sair da casa dos pais é sentir saudade, mas respirar liberdade.
Voltar para a casa dos pais é tentar se reacostumar com a antiga dinâmica. É tentar se readaptar a essa hierarquia. É voltar a engolir sapos que não mais engolia. É se alimentar melhor, mas ao mesmo tempo ficar ouvindo questionamentos sobre se já comeu. É poder andar de carro, mas sempre se sentir devendo. É ter alguém para buscar nas festas, mas ter um horário limite para voltar. É sentir os cuidados, mas ouvir as cobranças. É achar que já é grandinha demais para algo, mas saber que eles nunca vão enxergar assim.
Eu sinto falta da minha paz, mas cada escolha é uma renúncia. Aqui eu morro de saudade de lá, e lá eu morria de saudade daqui. Sair da casa dos pais - e depois voltar - é não estar completa em nenhum lugar.
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