Até alguns meses atrás, se me perguntassem qual foi o melhor ano da minha vida, eu responderia, sem medo, 2014. Foi o meu último ano de colégio, foi o lançamento do meu livro, foi a abertura da Academia de Artes, foi a conclusão que me levou à aprovação no vestibular. Foi muita coisa muito boa junta em um ano só. Eu tinha certeza.
Eu faço aniversário em maio e, pouco antes de completar meus vinte anos, decidi que esse ano seria meu novo melhor ano da vida. 2017 tinha uma meta difícil: superar acontecimentos importantes, emocionantes e grandiosos - numa medida ainda maior para uma menina de dezessete anos - que aconteceram em 2014. Meu ano começaria em maio, e teria até o maio seguinte para mostrar a que veio. Não preciso esperar isso tudo para dizer que, como boa taurina teimosa e persistente, consegui.
Sinceramente, nem era exatamente sobre isso que queria falar, mas uma frase que eu gostava me chamou atenção: "aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar é perder a si mesmo. E aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si próprio". É uma frase de Soren Kierkegaard, que meu professor de literatura do terceiro ano usou em um slide sobre o existencialismo. Nessa época, eu estava realmente me identificando com a ideia existencialista, e anotei a frase correndo no fundo do meu caderno. Era um incentivo constante para embarcar numa viagem interior, tentar me conhecer, romper barreiras e aprender a deixar a minha zona de conforto. Hoje, relendo a frase, ela me traz ainda mais sentidos ocultos.
Eu lembro da menina de dezessete anos que não tinha muita coragem de dizer o que pensava e sentia, e do quanto foi libertadora a sensação de fazer isso pela primeira vez. Lembro da menina que não se conhecia tanto, e que nunca tinha passado mais de vinte dias fora de casa. Lembro da menina que tinha vergonha de resolver seus próprios problemas por telefonemas. Ela só tinha dezessete anos, mas, dentro do possível, decidiu aventurar-se, e fez coisas memoráveis. Eu, pelo menos, não vou esquecer.
Ao mesmo tempo, eu percebo o quanto essa mesma menina cresceu. Ela atravessou o oceano para realizar um sonho antigo. Ela precisou resolver os próprios problemas longe de casa, e lá se vão quatro meses do outro lado do Atlântico. Essa menina comprou passagens para outros países, um pouco medrosa, um pouco assustada. Viajar sozinha é bom, mas um pouco romantizado. Não há alguém para pedir opinião ou olhar sua mala enquanto precisa ir ao banheiro. Não há alguém para emprestar um celular mais rápido quando o seu trava ou tirar fotos bonitas. Não há alguém para conversar ou apontar os lugares legais. Não há alguém, é só você. É você vinte e quatro horas por dia, e apenas isso. Aprender a conviver apenas consigo é difícil.
Mas aventurar-se não é apenas entrar num avião e rezar para não ter problemas com o hostel ou o transporte público ou a língua nacional. Aventurar-se é deixar-se entrar em ruas apertadas só para ver o que vai dar no final. É perceber que o google maps está um pouco louco, confiar no instinto e descobrir lugares impressionantes e não tão visitados. Aventurar-se é ter coragem de se entregar a vida e esperar o que ela tem para mostrar.
A vida me mostrou lugares bonitos, mostrou que posso ser mais forte do que pensava, mas, principalmente, me mostrou pessoas incríveis. Ela fez isso quando eu menos esperava, quando eu não procurava, quando apenas caminhava observando a beleza do caminho. E nessa história, no meio do caminho não tinha uma pedra. No meio do caminho havia uma oportunidade incrível de conhecer alguém especial. Havia a possibilidade de passar momentos incríveis. Havia a chance de experimentar sentimentos únicos. Não havia a escolha de aproveitar tudo isso e garantir um destino indolor. A bifurcação dava apenas duas opções: um caminho direto e seguro, protegido do sol, da chuva, de intempéries, de surpresas, de flores, e da vista da beleza do percurso; e um caminho sinuoso, repleto de novas descobertas e de carinho. Não era possível ver o final desse caminho, e talvez ele fosse mais difícil, mas era lindo. A vida me deu uma escolha: aproveitar ou ignorar.
Eu escolhi aproveitar, que, no sentido mais elevado, é aventurar. Aventurar gostar tanto de alguém mesmo tendo data para voltar. Aventurar me acostumar tanto a alguém mesmo sabendo que não vou ficar. Aventurar mergulhar nos meus sentimentos até me conhecer de uma forma que eu nem sabia que existia em mim. Eu escolhi aguentar a ansiedade, mas não me perder no caminho reto e cinza que leva a um fim insensível. Eu escolhi ver e viver a beleza da vida: com seus caminhos tortos e sinuosos que se perdem e se encontram, se cruzam, se entrelaçam e se desfazem nessa mistura de acaso e destino. Eu escolhi não me preocupar tanto com o destino, mas aproveitar a caminhada. Por essas escolhas, tenho sido muito grata.
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