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O que aprendi (até agora) no intercâmbio



Dois meses longe de casa. Mais especificamente: sessenta e quatro dias a oito mil duzentos e vinte e três quilômetros de casa. Dois meses de muito aprendizado do outro lado do Atlântico. Coisas mais importantes que aprendi:

Primeira: é difícil fazer as coisas completamente sozinha, mas eu sou capaz. Depois de dar duas voltas no aeroporto com um peso de quarenta quilos, cair da escada rolante por não conseguir segurar a própria mala e descobrir que o Uber de Lisboa não aceita dinheiro, mas mesmo assim conseguir chegar ao hostel, percebi que as coisas são muito mais complicadas quando se está desacompanhada, mas elas não são impossíveis.

Segunda: pode ser muito bom se perder. Cansada, mas com vontade de aproveitar meus poucos dias em Lisboa antes de seguir viagem, eu peguei o mapa e escolhi pontos perto do local em que estava para ver naquela tarde. Não conseguia encontrar de forma alguma. Desisti do mapa, e comecei a andar simplesmente para onde meus olhos achavam que era a direção mais bonita. Fui parar em lugares maravilhosos e andei mais do que pensei que seria capaz.

Terceira: ficar doente sozinha é péssimo, mas sobrevive-se. Quando seus amigos ainda não chegaram à cidade, você não conhece nada nem ninguém, só tem um pacote de biscoito e uma garrafa de água para se alimentar, e sua mãe não está por perto para cuidar de você, qualquer doença é muito maior do que seria em condições normais. Mesmo assim, você arranja forças para se recuperar.

Quarta: cuidar de uma casa é difícil. Por menor que seja, por menos bagunça que você faça, continua sendo trabalhoso. As roupas não se lavam sozinhas, a geladeira não se enche sozinha, o chão não se varre sozinho, o lixo não vai para fora sozinho, o ralo não se desentope sozinho. Ou você faz, ou não há outra opção. Você simplesmente faz.

Quinta: viajar pela Europa não é tão barato quanto pensei enquanto sonhava com o intercâmbio. É preciso definir prioridades, cortar alguns lugares, planejar com antecedência e verificar custos. Não estranhe se a economia que planejou não estiver acontecendo: se virar também significa gastar o dinheiro que seria para o lazer em meros produtos de limpeza.

Sexta: aproveitar os lugares e os momentos. Nas pequenas viagens que já fiz aqui, sabia que provavelmente não voltaria naqueles lugares novamente, ou só o faria bem mais tarde. Tentei absorver o que podia e - além das fotos - lembrar de cada canto que vi.

Sétima: levar e deixar boas memórias. Eu conheci muita gente, de muitos lugares diferentes, e cada uma dessas pessoas tem algo a ensinar. É muito bom se conectar e receber um pouco de cada lugar do mundo dentro de nós. Algumas dessas pessoas são realmente especiais e, por mais que provavelmente não vá vê-las de novo quando for embora, elas deixam suas marcas especiais em nós. É importante deixar com elas também boas memórias.

E, claro, aprendi sobre Direito, que era o meu primeiro objetivo. Por mais que seja muito, ainda assim não se compara com todas as outras coisas - sobre a vida - que tenho aprendido.

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