Eu sempre fui um tanto quanto fascinada com viagens no tempo. Se eu pudesse escolher um superpoder para ter, provavelmente seria esse. Poder saber o que vai acontecer, poder ver com meus próprios olhos como tudo acontecia, poder corrigir o que não gostei e repetir o que amei. Eu provavelmente adoraria tudo isso. Ou talvez ficasse louca. Talvez, quem sabe, um pouco de loucura faça parte da felicidade.
Hoje assisti a Midnight in Paris, um filme que eu era um pouco curiosa desde 2014. Não sei porque nunca tinha parado para assistir a ele antes, talvez por uma questão de tempo (aliás, outro filme sobre viagem no tempo que eu amei). O fato é que, hoje, por um motivo qualquer, parei para ver. Adorei.
Assim como o que escrevi sobre A vida secreta de Walter Mitty, isto aqui não é uma resenha. Eu não sou crítica de cinema e não entendo suficientemente de direção, atuação e coisas técnicas dessa arte para poder criticar. Eu só queria falar de algo que gostei muito e que me fez pensar.
Eu sempre disse que parece que nasci na época errada. Acho que combino mais com os anos 60, com as roupas, as músicas, toda a ideia da forma de viver da época. Eu sempre disse que gostaria de ser uma jovem daquela época e que, hoje, parece que tenho uma alma meio velha. Parece que há algo poético e melhor no passado.
Gil Pender também pensava assim e, em uma viagem à Paris, teve a maravilhosa oportunidade de experimentar a época dos seus sonhos, e ainda mais impressionante: de conhecer os grandes artistas de quem era fã. É claro que ele amou, e que tudo isso foi uma grande aventura e lhe rendeu momentos inesquecíveis. É óbvio que eu adoraria poder embarcar nas minhas fantasias assim.
Sim, eu disse que provavelmente escolheria o superpoder de viajar no tempo. O problema é que, até agora, não me deram a chance de escolher superpoder nenhum. Eu tive uma chance: a vida. Espero estar fazendo o melhor possível com ela. A vida é o presente, e talvez esse momento tenha esse nome justamente por isso: talvez seja uma bênção, uma espécie de presente divino. A gente não pode voltar ao passado, mas ainda dá para relembrar coisas boas usando a memória. Dá para corrigir erros usando as desculpas, ou simplesmente aprendendo a fazer diferente. A gente não pode viajar para o futuro, mas pode fazer coisas boas hoje para que ele chegue melhor.
Talvez o passado tenha esse quê poético porque não foi vivido por nós ou, quando foi, porque nos deixou saudades. Saudade é um sentimento difícil de lidar, mas é prova de que algo valeu à pena. Saudade é inspiração, é uma mistura de real e fantasia, é uma presença ausente, é algo sem definição em outras línguas, mas que todo o mundo sabe como é sentir. E a gente pode sentir saudades de coisas, de pessoas, de lugares e de tempos. O que a gente não pode é ficar preso a essas saudades e deixar o presente passar.
Gil Pender, mesmo encantado com toda aquela magia de Paris dos anos 20, entendeu que o seu próprio tempo era o seu lugar. Tem pouco tempo que eu vi alguém fazer uma releitura de um ditado popular: talvez a grama do vizinho seja realmente mais verde, porque ele está regando e cuidando, enquanto você fica observando a dele. Talvez os outros tempos pareçam mais interessantes e mágicos porque você não está, propriamente, vivendo o seu.
Se eu pudesse viajar no tempo, bem, eu adoraria passear um pouco. Mas, no fim, voltaria para a Maria de 20 anos que vive em 2017. Ela ainda tem muito o que aprender e experimentar pela frente. Talvez, se soubesse como seria, tivesse feito algumas coisas diferente. Mesmo assim, acho que não voltaria para mudar esses acontecimentos. Ainda que com algum sofrimento, eles me fazem quem sou hoje - e aprendi a gostar de mim assim, com pequenas falhas e cicatrizes. Aprendi a gostar da minha história, e mais ainda do meu resultado.
Sim, ainda vão existir algumas coisas que você não vai tolerar no seu passado, mas acredite, você pode mudá-las no seu presente: não é tratar como se não tivesse acontecido, mas como se você tivesse vivido, aprendido e quisesse reconstruir aquela história.
Talvez tudo isso tenha ficado um pouco confuso, como são as cabeças de quem costuma refletir demais. Talvez faça completo sentido para você. A pergunta que fica, para mim, se divide em duas: se você pudesse voltar no tempo, o que faria diferente? Como você pode mudar isso hoje?
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