E se todo o sofrimento que passamos realmente foi para nos ensinar algo ou nos preparar para receber uma felicidade futura? E se pessoas passam em nossas vidas realmente por um motivo? E se elas falam coisas porque nós precisamos, por alguma razão desconhecida, ouvir essas coisas?
Esse é mais um daqueles textos que escrevo depois que assisto a coisas interessantes e elas me provocam grandes reflexões. Atenção: isso não é uma resenha.
Assisti à série Master of None na última semana, e tive uma grata surpresa. Não saberia definir exatamente do que ela trata, mas o protagonista é um cara legal, filho de indianos, mas nascido nos Estados Unidos. Usando dos estereótipos, o grupo de amigos dele é bem variado: Arnold, bem alto e acima do peso; Brian, asiático; e Denise, mulher lésbica. Deu para perceber que fala de minorias? Já ganhou pontos por isso. Não é uma série sobre uma grande história: é uma série sobre um cara comum, com dilemas cotidianos, um humor leve e inteligente e reflexões que valem à pena ser feitas. Eu espero que, até aqui, já tenha te despertado a vontade de também assistir. Se sim, vai lá, assiste, depois volta para refletir comigo. Se não, pula direto para a tal reflexão, mas aviso que contém spoilers.
Pois então.
A série começa com Dev (o protagonista) e Rachel (uma moça que ele acabou de conhecer) tendo que comprar uma pílula do dia seguinte. Fica uma situação chata, eles até combinam de manter contato, mas não seguem adiante no combinado. Tempos depois, se esbarram num show. Eles conversam casualmente, ela oferece convite para um after e, depois de conversas animadas, ele acha que é o momento perfeito para beijá-la. Mas, oh-oh, ela está tentando se acertar com o ex-namorado. Mais um hiato nesse quase-romance, até que ela avise que a tentativa de se acertar não deu certo e que ele pode, sim, chamá-la para sair. O primeiro encontro já começa com uma viagem de fim de semana, e daí para eles estarem num relacionamento sério e Rachel se mudar para o apartamento de Dev, é um pulo. Sim, eu contei boa parte da história aqui, mas, veja bem, eu avisei que havia spoilers.
Quando se muda, Rachel leva de presente uma máquina de fazer massas, para que Dev, apaixonado por elas, possa ele mesmo fazê-las. Essa máquina fica esquecida por um tempo, até que, durante uma viagem de Rachel, ele decida testá-la. Toda a história que eu contei até aqui não foi sobre o casal, mas sobre essa máquina. Acontece que, depois de um momento de incertezas, eles brigam e passam alguns dias separados. Quando aparece para conversar, Rachel já dá uma notícia bombástica: decidiu correr atrás de um sonho antigo e vai se mudar para o Japão. Se você chegou até aqui e está com alguma vontade de assistir, por favor, não continue. Eu não quero estragar uma das melhores ideias da série. Continuemos.
Dev aparece arrumando as malas e comprando passagens, e eu jurava que estaria diante de um final clichê em que ele vai até o outro lado do mundo atrás da pessoa amada, mas sabe o que aconteceu? Dev foi para a Itália, para aprender a fazer massas. Sim, eu acabei de contar o final da primeira temporada. É que eu fiquei tão encantada com a falta do clichê romântico, com a liberdade e com a filosofia de vida que encontrei nessa decisão, que precisava compartilhá-la aqui.
Talvez agora o título comece a fazer sentido. Sim, eu acredito que nós somos livres para escolher o que vamos fazer das nossas vidas e que colhemos o resultado do que plantamos. Definitivamente, não acho que nossas vidas sejam um roteiro divino predeterminado e impassível de modificações. Mas e se algumas coisas pontuais e importantes acontecem por algum motivo? E se Dev apareceu na vida de Rachel para que ela repensasse o fato de estar deixando de lado seu sonho do Japão? E se Rachel deu aquela máquina de fazer massas para que Dev descobrisse em si um novo talento e tomasse uma grande decisão?
E se pessoas das nossas vidas passaram por elas não por acaso? Será que aquela pessoa que te despertou raiva em algum momento não foi, na verdade, um combustível para que você pudesse progredir? Será que alguém que apareceu e sumiu mais rápido do que você poderia acompanhar não foi importante para que você pudesse se acostumar com a mutabilidade da vida? Será que você não conheceu determinadas pessoas pela simples razão de tomar uma decisão?
Talvez, eu cheguei à conclusão, a vida não seja um roteiro completamente escrito, mas um check-list de oportunidades de aprender. O mundo tem sete bilhões de pessoas aleatórias e diferentes circulando por aí. O que te faz conhecer e se aproximar do mundo particular que é cada uma delas? O que te aproxima de determinadas pessoas? O que te toca? Talvez seja o destino, que faz com que algumas delas marquem mais que outras. Talvez algumas coisas aconteçam mesmo por alguma razão e, quer saber? A gente nunca vai descobrir.
Eu só concluí que, talvez, um dia eu seja como a máquina de fazer massas para alguém, ou alguém seja como essa máquina para mim. Talvez, isso aconteça diversas vezes durante a vida, com pessoas diferentes alternando papeis mais diferentes ainda na vida das outras. É preciso reconhecer a importância dessas pessoas nas nossas vidas e, principalmente, agradecer. E se, ainda assim, você não acreditar em nenhum tipo de destino, por menos regulador que ele possa parecer? Agradece à sorte por, entre tantas pessoas no mundo, você se bater justamente com aquelas que tem a capacidade de mudar a sua vida.
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