Eu amava ouvir sua voz. E também amava ler suas mensagens e
imaginar que estava ouvindo sua voz. Adorava o jeito que só você me chamava, as
brincadeiras que só você entendia, as conversas que só a gente tinha. Eu
escrevi tantos textos sobre você, e quase nenhum deles você chegou a ler.
Tantas coisas eu pensei em te dizer, e você já não estava mais aqui para
escutar.
Você sabe que eu costumo dormir fácil. Quando a aula está
chata, quando o caminho é longo, quando ainda há dez minutos antes do próximo
compromisso. Eu mal fecho os olhos e já estou dormindo. Mesmo assim, andei
tendo umas noites de insônia, uns sonhos perturbados. Em quase todas elas,
pensei em te escrever. Pensei em te contar da nova receita que eu aprendi,
daquela minha amiga que terminou com o namorado babaca, da faculdade que anda
uma loucura. Às vezes eu nem tenho nada para falar, mas ainda vem à cabeça
aquele hábito antigo de pegar o celular, escrever nem que seja apenas “olá”.
Toda noite de insônia eu volto para o passado. Quantas
páginas de meses viradas? Quantos dias riscados nesse calendário? Eu fiz questão
de parar de contar, mas não é como se não soubesse facilmente responder.
Enquanto Morfeu não me toma de novo nos braços, eu imagino por onde estarão
seus abraços. Eu volto no tempo e tento aguentar a ideia de ver aqueles dias se
afastarem de mim assim. É um tanto quanto insuportável.
De noite, sem conseguir dormir, eu vejo os minutos passarem,
assim como vi você se despedir. Eu não posso fazer nada. Eu não fiz. É nessas
noites que vêm as reflexões mais loucas: umas contas de matemática que há uns dois
anos eu não preciso mais fazer; alguns planejamentos de coisas que estou longe
de precisar entregar; umas culpas que eu não deveria me arrepender; algumas
desculpas que eu não deveria tentar.
É nessas noites estranhas, com os olhos vidrados e o pensamento
embaralhado, que algumas coisas parecem que magicamente vão acontecer: eu acho
que vou encontrar aquele brinco perdido, eu acho que consigo ler nos sonhos, eu
acho que você vai falar comigo. Alguma coisa insiste em me enganar, dizendo que
ainda temos algum tipo de conexão, que você não deixou de se importar. Mas, no
fundo, quando recobro a consciência, sei que você não vai ligar.
Eu penso em te escrever para dizer que o seu silêncio me
agride. O seu sumiço me ofende. Você não pode simplesmente agir como se não
existisse, como se não importasse. Você não devia desaparecer assim. Você é
tanta coisa, de tantos jeitos, que não pode se resumir a nada. Não pode parecer
que não houve nada, que nada mudou. Seu silêncio me provoca, porque na falta da
sua voz, a presença da sua ausência me incomoda.
Toda noite de insônia eu penso em te escrever, pra te dizer
que seu silêncio me agride, e que eu não suporto ser um calendário do ano
passado. Algumas noites eu escrevo, mas nunca envio. Seu silêncio continua a me
agredir. E, daqui a um tempo, serei um calendário do ano retrasado.
Esse texto foi baseado no lambe-lambe de um projeto maravilhoso, chamado Ação Poética (você pode visitar a página @acaopoeticabrasil no Instagram), que se dedica a, com pequenos versos, distribuir poesias e arrancar sorrisos pelas ruas de Salvador.
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