Eu queria ser mais alta. Queria ter coxas definidas. Queria ter uma barriga chapada o tempo todo. Eu queria ter um cabelo que eu não precisasse nem arrumar antes de sair. Queria ter olhos azuis como o mar e um nariz fininho. Queria ter sobrancelhas sem falhas e levemente arqueadas. Eu queria ter mais cintura, queria ter seios maiores, queria ter músculos mais durinhos. Eu queria ter um corpo ideal, desses que aparecem nas capas de revista e nos filmes de Hollywood. Desses que digital influencers exibem no Instagram.
Eu visto 36, e já cansei de ouvir "aqui não tem roupa para você", porque meu tamanho é pequeno para boa parte das lojas. Eu tenho um thight gap que é obsessão entre as meninas europeias. Eu sou três centímetros mais alta que a média da mulher brasileira, e a minha barriga sai chapada em várias fotos do meu Instagram. Eu estou dentro do padrão que as pessoas, a mídia e a moda escolheram determinar como bonito ou aceitável. Por que, mesmo assim, continuo não achando que tenho um "corpo ideal"? Por que continuamos insatisfeitas e perseguindo metas inalcançáveis?
Eu queria poder mudar essas coisas como um passe de mágica, mas não estou disposta a me submeter a cirurgias, aguardar recuperações difíceis, virar a louca da academia e gastar rios de dinheiro só para me aproximar da imagem (cheia de Photoshop) das celebridades e das blogueiras.
E então? Eu decidi me aceitar. Aceitei que, por mais que eu queira, meu cabelo nunca mais vai ter os cachos perfeitos e loirinhos de quando eu tinha seis anos, e que ele pode ser bonito com sua forma meio indefinida, sim. Aceitei que, por mais que eu emagreça, minha cintura vai continuar sendo uma leve curva não muito marcada. Aceitei as estrias que surgiram com o tempo e que não eram mais possíveis de tirar. São a estampa do nosso crescimento. Eu aceitei até o meu joanete: uso um aparelho para ele não crescer, mas odiar meu corpo em nada ia resolver.
Eu aprendi que corpo ideal é aquele em que habita uma alma cheia de luz. É aquele que troca energias positivas. É aquele que tem mais brilho no olhar do que no tratamento dentário. Tem que cuidar da saúde? Claro que tem. Pode buscar uma forma física que agrade mais a si próprio? Claro que pode. Mas, antes de tudo isso, tem que se amar. É preciso entender quem você é e, às vezes, entender que determinadas características são parte de você e não serão mudadas. É preciso respeitar os limites do seu corpo. É preciso diferenciar o que é vontade própria do que é busca por um padrão de moda falso e inatingível.
Mas e se, mesmo depois de tudo isso, aparecesse uma fada madrinha/gênio da lâmpada e me desse o direito de, num passe de mágica, mudar uma coisa no meu corpo e torná-la perfeita? Eu não hesitaria em corrigir a minha miopia. Aprendi que corpo ideal não é aquele que acham bonito, mas o que te faz feliz.
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