Eu falo demais. Eu conto detalhes, eu falo sem parar, eu falo numa velocidade que algumas pessoas nem conseguem entender. Eu conto historias da minha vida, conto histórias de vida de gente que nem lembro exatamente quem foi - o que importa é a história - conto da vida de gente que, na verdade, eu nunca nem vi.
Já me defini como verborrágica. Eu sempre tenho algo para falar: da vez que aconteceu aquilo comigo, da minha amiga que disse que já teve isso, da minha tia que contou que viu isto acontecer. O grande problema é que, muitas vezes, eu não falo. Já me entendi como uma bonequinha que precisa que deem corda - e essa corda se chama intimidade.
Eu tenho vergonha de falar coisas simples com quem não me sinto à vontade, tenho vergonha de ligar para pedir uma informação, tenho vergonha de tirar uma dúvida quando não entendi. Eu não consigo encarar alguém quando percebo que está olhando para mim. Eu não sei o que dizer se me elogiam ou se conheço alguém novo.
Ser tímida é um saco. Isso me priva de coisas, de experiências, de vontades. Ser tímida é erguer, você mesma, grandes muros que te separam do que você quer. É ter que enfrentar desafios diários, que a maioria das pessoas faz sem nem perceber. É ter medo de arriscar coisas bestas, porque só pensar em arriscar já dá um arrepio na espinha, trava os músculos e some a voz. Ser tímida é lidar, quase o tempo inteiro, com um autolimitador insuportável. Ser tímida é ter um furacão se movimentando dentro de você, mas só conseguir deixar escapar uma brisa de verão. Ser tímida é querer falar - pensar em milhões de hipóteses em um segundo, planejar em frente ao espelho, esperar a oportunidade perfeita - e não conseguir obrigar as palavras a atravessarem os dentes.
Eu já arrisquei algumas vezes - não foram muitas, mas foram grandes o bastante para me dizerem que fui corajosa. Eu arrisquei com o que tinha mais medo: pessoas. E, mais ainda do que eu tinha medo de arriscar com pessoas, eu me arrisquei com sentimentos. Eu me arrisquei não só porque não sabia a possível resposta de outrem. O risco maior era me abrir, me expor. E eu fiz. Sempre foi sobre mim. Sim, envolvia um pouco de mais alguém, mas sempre foi sobre o desafio que aquilo significava para mim, sobre se eu finalmente ia conseguir.
Eu fiz. Sim, eu, tímida, consegui arriscar. Eu me esforcei, eu planejei, eu quase me forcei a arriscar. Queria dizer, a qualquer outra pessoa tímida que possa estar lendo isso, que o resultado foi maravilhoso: talvez não o resultado concreto em si, porque descobri que não era isso o que mais importava. O que fazia a diferença era a mudança que tinha ocorrido em mim: a sensação de que eu fui capaz, de que consegui transformar em tempestade um pouco daquele furacão, e de que essa tempestade finalmente alcançou o exterior. Sempre foi sobre mim, só precisava sair.
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