A gente sempre tenta se preservar. Ninguém quer se machucar,
ninguém quer expor suas feridas, ninguém se abre para novas mágoas. O problema
é que, nessa de se proteger, a gente acaba ficando no meio do caminho. A gente
evita as tristezas suprimindo as histórias, e acaba ficando sozinho. A gente
não se dá a oportunidade de conhecer novas pessoas, não perdoa as antigas e, no
fim, acaba tendo o teto do quarto como melhor amigo. A gente se permite apenas
romances sem amores, frases sem verdade, conversas sem olhar. A gente não
consegue permanecer na superfície, mas não se deixa alcançar a profundidade.
A gente sonha com amores eternos e ultrarromânticos, mas
esquece que o romantismo tem muito de lágrimas. Para evitar as cicatrizes, a
gente se enche de desculpas, de culpas e de proteções que, além das tristezas,
evitam emoções. A gente sonha com liberdade, mas não passa muito de uma criança
de playground: criada com bicicleta de rodinha, cotoveleira, joelheira e capacete.
Nós somos da geração do merthiolate que não arde, da comida sem glúten, dos
beijos sem paixão. Nós crescemos acreditando na vida sem dor, no aparecimento
mágico do amor, num felizes para sempre que termina no “sim”.
Nós aprendemos que dá para parar de sentir, que não é
problema mentir, que quanto mais desapegado, melhor. Nós fugimos do sofrimento,
e acabamos perdidos em meio ao desconhecimento. Não sabemos quem somos, onde
estamos, por que estamos, aonde queremos chegar. Não sabemos quem realmente
estará lá, quando acontecer. Se acontecer. A gente se acostumou a querer, sem
fazer. A gente acha que desejar é merecer. A gente luta por uma vida de puro
prazer. A gente se perdeu no medo de arriscar, e agora não sabe mais para onde
andar. A gente não sabe nem, droga, como terminar. Então, é melhor deixar
assim. Já traduzi muito de mim.
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