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Mostrando postagens de julho, 2015

Falei

   Não sei o que me deu para falar assim. É só que eu não sou assim, sabe? Ou vai ver eu sou, e ainda não me conheço bem. É possível. Vou me olhar no espelho, e nada mudou. Bem, talvez aquelas sobrancelhas estejam menos tristonhas. E os olhos menos vermelhos. E a boca solte um sorriso mais verdadeiro. É, parece que alguma coisa mudou, sim. Mas isso é consequência e não causa, vamos lá, você sabe disso.    Sei que estou mais leve, isso com certeza. Não sei o que - e se - vai acontecer. Só sei que botar para fora todas as dúvidas, todas as incertezas, todas as quase-mágoas que estavam guardadas dentro de mim, ah, isso é bom demais. E talvez isso não seja comum, e provavelmente não é mesmo. Mas eu também não sou, ora. Uma amiga costuma dizer que sou a pessoa mais excêntrica que ela conhece. Não sei se chego a tanto, mas começo a me convencer de que minhas atitudes talvez não sejam comuns. Mas quer saber? São as melhores para mim. Talvez não sejam as melhores para você, talvez te assust

Vento que me gira

   Eu acredito em muitas coisas. Eu gosto de acreditar, gosto de dar crédito, gosto de me jogar naquilo que acredito. Eu ainda acredito em você, ainda acredito nisso, apesar de achar que logo logo isso vai mudar. Mas não pararei de acreditar nas coisas que gosto, nem em você, não. Só vou parar de acreditar que isso está acontecendo. E digo assim, "isso", porque não quero definições que confundam mais a minha cabeça.     E também não vou parar de acreditar nos outros, pode crer. Os próximos virão como novos, e levarei do passado apenas o aprendizado. Sabe "Vento no litoral"? Pois é. "Quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem... Já que você não está, o que posso fazer, é cuidar de mim". Tem muitos outros ensinamentos valiosos, mas vamos ficar por aqui. Só te digo que, se há algo que aprendi, lá vai: não faça promessas que não pode cumprir ou fale de um futuro em que não pretende estar; e, por favor, acabe - cla

A vidente

   Ruby nem percebeu que já estava chegando à sua estação. Passou todo o tempo viajando nos próprios pensamentos, refletindo sobre o que a cartomante dissera. Sim, ela havia ido a uma cartomante, mesmo sendo uma jornalista bem sucedida, que teoricamente só acredita em fatos. E, também, mesmo sendo uma mulher independente, no auge dos seus 33 anos, com uma beleza de arrasar e a auto-estima lá em cima. Nada disso, porém, era maior do que a sua curiosidade para saber, depois de ouvir tantas esperanças milagrosas de suas colegas, o que a tal mulher lhe diria como previsão. Nem a sua sempre presente consciência foi capaz, alertando-lhe a todo momento, de impedi-la de gastar uma fortuna para ouvir coisas que não acreditaria.    O fato é que, lutando até contra os próprios credos, Ruby pegou a linha 2, saltou na primeira estação, passou para a linha 6, e esperou mais uns 20 minutos até que pudesse sair do metrô e procurar a rua do endereço. Encontrou o prédio com facilidade, e não demor

O adeus final

   Essa não é mais uma história de ficção. Não. Com a maior sinceridade do mundo, isso é um pedido de desculpas. Peço desculpas a todos que acreditaram em mim, a todos que me parabenizaram, a todos que me perguntaram sobre a continuação do meu livro. Sim, eu deixei brechas para que ela viesse, mas desculpem, ela não virá. A verdade é que toda essa história foi um sonho - e sonhos acabam. E, se o meu livro foi um sucesso nesse meu pequeno mundinho, ele foi, ao mesmo tempo, um fracasso no mundo real.    Sim, eu realmente ouvi que é muito bom, que está bem escrito, que a história é envolvente, que vão sentir falta das personagens. Pois bem, agora dou-lhes um motivo permanente para que sintam falta: elas não voltarão. Querer ser escritora foi uma ilusão que me rendeu dias maravilhosos - certamente o melhor de todos, o lançamento do meu livro, foi graças a isso - mas que agora me provoca angústias. Eu não tenho fibras para esse mundo. Eu não tenho persistência para continuar "corren