Soube hoje pela manhã que ontem foi dia do escritor. E precisava escrever e, principalmente, precisava vir aqui falar isso, depois desse jejum antiestratégico de alguns meses. Eu não sou uma escritora profissional – não vivo disso e nunca tive qualquer lucro com a escrita – mas emocional. Eu escrevo quando algo me desperta emoções, quando eu quero despertar emoções. E eu parei de escrever porque as emoções que eu podia catalisar – no meio de tanta dor e desespero, no auge da segunda onda da pandemia – não eram boas. Não quero ser um roteador de angústias e sentimentos ruins. A vida tem sido esquisita há um bom tempo: isolada do mundo, das pessoas queridas, dos grandes e bons momentos. Nada acontece aqui dentro. Lá fora, o mundo parece querer acabar. Me divido entre o tédio de não ter o que contar e o medo de assistir, de longe, o que pode acontecer. Parei de escrever.
Mas escrever também tem sido a minha válvula de escape há
anos. Eu escrevo sobre despedidas, partidas, dores, amores, andanças e esperanças.
Eu escrevo sobre a vida que tenho, a que já tive e a que espero ainda ter.
Colocar em palavras me organiza a mente, me acalma o coração. Escrever é minha
benção e minha maldição. Imagino que algumas pessoas achem esquisito falar
tanto e sobre tantas coisas e para tanta gente que nem conheço. Às vezes eu também
acho. Mas ainda assim preciso. E não deixo de reconhecer a beleza e a força que
vêm de se saber – e se assumir – vulnerável. A potência que é abrir suas
próprias feridas e dizer “ei, eu sou de carne e osso e muito sangue”. E a
coragem de se deixar sangrar, até que as feridas sarem, até que o sangue
escorra, até que o coração cure.
Eu sou esse tipo de escritora. Hoje. Eu gosto de falar de
sentimentos e saudades. Eu gosto de reflexões, imaginações e vontades. Eu já
fui da ficção sobrenatural à poesia quase autobiográfica. Eu sou dos quases e
dos talvez. Sou do adeus, do até já, do até lá. Eu gosto de sonhar e, no
momento, vivo a esperar. Espero dias melhores, histórias mais vivas, alegrias
mais sentidas. Eu voltarei a escrever. Com sorrisos e lágrimas e emoções
afloradas e histórias bem contadas. Eu voltarei a escrever e vai ser incrível, pode
crer, assim que a vida voltar a ser mais que sobreviver.
Comentários
Postar um comentário