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Mostrando postagens de março, 2016

Eu tenho medo de sentir medo

   Não acreditava muito nisso, mas disseram que sou muito corajosa. Disseram que eu corro atrás, que realizo, que faço e aconteço. Eu não sei se acredito. Não sei se tenho essa coragem toda, se sou inovadora e destemida. Eu só sei que morro de medo de sentir medo, de me paralisar por causa do que ainda pode vir a acontecer, de não fazer o que eu quero, preciso ou devo, apenas por causa desse medo.    Eu não quero ser a garotinha do "não consigo". Aprendi a andar de bicicleta antes do que queria porque quebrei a minha rodinha numa pedra grande no caminho da praia. Ouvi meu pai dizer que a opção de ficar com apenas uma rodinha me faria cair para o outro lado o tempo todo, e decidi, com meus conscientes cinco anos, que cair apenas algumas vezes, até aprender, era mais proveitoso. Parar de andar de bicicleta não era uma opção. Queria poder levar o meu aprendizado do caso para as outras áreas, com a mesma segurança da menina que, com menos de um metro de altura, aceitou o de

Para minha Eu do futuro

   Esse é um texto sem "você". Apesar de provavelmente você agora ser uma pessoa diferente do que costumava ser. Te imagino dentro de um avião, sentada ao lado da janela e abrindo, com o mesmo sorriso sonhador de hoje, um envelope mal colado que preparou num passado distante.    Imagino que você continua escolhendo as suas roupas mais confortáveis para viajar, mesmo que haja alguém no portão de desembarque a esperar. Acho que vai estar com o cabelo ainda mais claro que hoje, pelo menos um pouco bagunçado, o rosto quase igual ao de hoje e, quem sabe, talvez não precise mais dos óculos?     Acredito que esteja curiosa para lembrar o que sua versão de dezoito anos escreveu. O que esperava de você? Quem pretendia ser? Aonde sonhava ir? Respire fundo, e relembre tudo que se passou. E agora, com cuidado, abra todas as perguntas que reservo para o futuro. Cuidado com as minhas expectativas, com meus sonhos, com a minha vida.     Sabe, você tem muita responsabilidade. Estej

Desculpa por você ter me conhecido

    Sim, sou eu, te pedindo desculpas. De verdade.    Desculpa por parecer que eu era uma boa opção. Não era minha intenção. Ou talvez fosse, sei lá. Talvez eu também acreditasse nessa outra versão de mim. Eu tentei melhorar. Não só por ti, não é bem assim. Mas é que eu tentei mudar, e digo isso por mim. É uma pena, mas não consegui.    Desculpa por te fazer acreditar que era minha primeira opção. Entre alguéns, sim, talvez você fosse. Mas entre toda a imensidão de coisas que a vida podia ser e oferecer, desculpa, você passou longe de ser uma das minhas prioridades.    Desculpa te fazer perder tempo. Nunca fui de perceber muito o tempo passar, sempre achei que ele era melhor quando não percebíamos que estava passando. E aí ele passou. Você chegou, ficou, foi ficando, e achou que isso era motivo para ficar por mais tempo. Não era suficiente.     Desculpa por todas essas ilusões que surgiram na sua mente. Sim, eu sou a menina que gosta de signos, bruxaria, viagem no tempo e

Guarde seu V de vingança

  Todo mundo tem histórias tristes. Todo mundo tem traumas, mágoas, arrependimentos. Todo mundo, pelo menos uma vez, já confiou demais e quebrou a cara. Todo mundo, de formas diferentes, já partiu o coração. E, olha, as pessoas continuam vivendo, conhecendo, se arriscando a quebrar a cara de novo. Já pensou que talvez o risco valha à pena?    Ouvi dizer que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Mas, sabe, talvez isso não seja verdade. Porque, às vezes, você não está tentando cativar. Às vezes, você só está sendo, como sempre é, e não é responsabilidade sua se alguém é cativado. O problema é que, às vezes, é você quem se cativa, e não há mais o que fazer.    Não, talvez aquela outra pessoa não tenha feito de propósito. Talvez você tenha, sim, se magoado. Mas talvez tenha sido você quem esperou demais. Talvez você tenha criado expectativas, tenha feito planos mirabolantes, tenha incluído no seu futuro alguém que ainda está preso ao passado com alguém. E

Para um ainda-não-casal amigo

   Eles eram um ainda-não-casal muito, mas muito fofo mesmo. Eram parecidos na medida em que você pensa "foram feitos um para o outro", e diferentes na medida em que você pensa "esses se completam". Eles viviam grudados não como se fossem dois, mas um. Riam juntos como se fossem vários. E sorriam como se fosse para sempre.     Eles ainda não sabiam. Mas também, só eles ainda não sabiam. É que era tão claro, tão nítido que aqueles dois tinham tudo para ficarem juntos que, na cabeça de todo mundo, eles simplesmente já estavam. Talvez ele já soubesse que gostava dela. Bom, sim, ele já sabia. Mas talvez ele também já soubesse que gostava dela daquele jeito. Talvez, ele só tivesse medo de como ela agiria quando soubesse que o jeito de que ele gostava dela já não era mais o mesmo. Ou, talvez, ele tivesse medo de como ele próprio reagiria quando soubesse que ela já sabia.    Talvez ela morresse de medo de estragar a amizade dos dois. Talvez ela tivesse medo de lim